12.12.03

- Sabe o que eu queria?
- Não.
- Ser seguro de mim...
- E você não é?
- Não. Por que? Pareço?
- Parece... Mas também, a gente se conhece pouco. Ainda não sei suas reações, seu comportamento.
- É verdade. E o mais curioso é que parece que a gente se conhece há tempos incontáveis.
- Tempo... Acho que é a única coisa comum a tudo. Tudo mesmo! Tudo tem um tempo seu, próprio. E ainda assim, tempo pode ser conceitual.
- Como assim?
- Qual o tempo certo de se começar a trabalhar? Qual o tempo certo de se ter um filho? “O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”.
- O que é isso? É seu?
- Não. É uma coisa de um livro que eu li quando era pequeno. Cada letra tinha um versinho desses. O “T” era esse. Acho que era um livro de trava-línguas.
- E você lembra dos outros?
- Não... Tem muito tempo que eu li isso... Quanto tempo a gente tem aqui nessa terra? Quando eu morrer, para onde vai o tempo?
- Por que você se preocupa tanto com o tempo?
- Porque perdi muito tempo tentando descobrir quem eu sou.
- E já descobriu?
- Não. Alguém já se descobriu por completo?
- Não que eu conheça. As pessoas mudam de acordo com o tempo.
- O tempo conceitual ou o tempo geral, dessa forma que a gente conhece?
- Acho que da forma geral, mundana.
- Ah...Mas o que deflagra essas mudanças? O tempo ou a vivência?
- Quanto mais tempo de vida se tem, maior a vivência. Então o tempo nos muda.
- Mas pode-se ter muita vivência em pouco tempo de vida. A vida é dissonante e muitas vezes, nos leva para lugares estranhos.
- É verdade... Por falar em tempo... Nosso tempo acabou. São cento e cinqüenta dinheiros.
- Ué! Há pouco tempo atrás eram cem dinheiros!
- Ah... Mas isso foi há muito tempo!
- É... Deve ser o sinal dos tempos...

26.11.03

A Estrada

Encostei meu carro e olhei para o mapa mais uma vez. Quem olhava de longe e me via de cenho franzido poderia pensar que eu estava entendendo o que estava desenhado ali. Tirei os olhos do mapa e olhei para frente algumas vezes numa tentativa vã de me achar naquela imensidão de estrada cercada por mato. Sai do carro para ter uma visão melhor da estrada e, quem sabe, achar uma placa que indicasse onde eu estava.
- Muito bem... Admita! Você está completamente perdido! Também... Mapa vagabundo dos diabos! – Pensava com uma certa raiva de mim. – Muito bonito, Zé! Culpe o mapa!
No som do carro, Robert Plant cantava as maravilhas que o esperavam na Califórnia e, logo em seguida, Christopher Cross dizia “nunca serei o mesmo sem você aqui”. Era uma seleção musical duvidosa, porém eclética. Duvidosa porque os roqueiros me crucificariam e os românticos me queimariam vivo ainda que gostasse muito dessa misturada sem dar preferência a um ou a outro.
Rasguei o “falso” mapa e me sentei no capô do carro para admirar a paisagem ao meu redor. Descobri que já passavam das três da tarde e que estava dirigindo desde as seis da manhã. Fui ao carro mais uma vez para buscar o maço de cigarros e, droga, só tem mais dois!
- Preciso de cigarros e uma cerveja. E rápido! – Voltei para o banco do motorista, girei a chave e o rosnado do motor me fez relaxar um pouco. Mick Jagger começou a cantar Paint in Black. Coloquei os óculos escuros e me senti como Mad Max. Acelerava cada vez mais e, como a estrada estava vazia, posicionei o carro bem sobre as faixas amarelas. Parecia que o carro as ia engolindo furiosamente como um cortador de grama a jato.
Ao longe, avistei um posto de gasolina que não recebia fregueses há um bom tempo. A poeira já tinha se apossado das bombas de combustível e da varanda da pequena loja de conveniência anexa ao posto. Uma senhora, perto dos seus setenta anos, sentava em uma cadeira de balanço na varanda e fumava um cigarro enquanto admirava o nada.
Estacionei o carro ao lado de uma das bombas e sai do carro em estilo cinematográfico retirando os óculos escuros puxando a haste direita num movimento brusco para a esquerda e para baixo.
A tal senhora usava um vestido quadriculado com um avental amarrado à cintura. Veio caminhando lentamente em minha direção e disse com uma voz quase firme tentando disfarçar a tremedeira:
- Não tenho combustível. O fornecedor deveria ter passado aqui há uma semana mas ainda não veio.
- A senhora tem cigarros?
- Tem uma máquina lá dentro que acho que ainda funciona – Tentei em vão identificar seu sotaque numa esperança de descobrir onde estava mas não deu certo.
- Ok! Obrigado.
Entrei na pequena loja onde, nos fundos, ficava a máquina. Depositei duas notas e apertei o botão correspondente à marca de minha preferência mas nada aconteceu. Chutei a lateral da máquina e três maços caíram no receptáculo. Sem cerimônia, peguei os três e os guardei nos bolsos dos jeans que já estavam bem surrados.
- Ah, vai... Foi a máquina que quis me roubar e depois da coerção, mudou de idéia! – Pensei me desculpando pelo furto qualificado.
Havia uma porta lateral na da loja e, muito curioso, resolvi averiguar. A tal porta não era aberta há muito tempo e, com um certo esforço, consegui move-la. As velhas dobradiças rangeram e um odor espesso de poeira me invadiu as narinas.
Atrás da porta havia um grande salão de pé direito alto. Muitas mesas com cadeiras apoiadas cercavam um pequeno palco e sobre ele, um piano coberto com lençol branco e mais acima, um belo e majestoso lustre de cristal. As janelas de vidro colorido retratavam grandes nomes do jazz como Wayne Shorter, Louis Armstrong, John Coltrane e Thelonious Monk.
Lentamente, meio hipnotizado, caminhei até o majestoso piano de calda. Descobri a frente do instrumento e a inscrição Steinway and Sons pareceu tomar vida ao refletir a débil iluminação externa que era filtrada pelos vidros coloridos. Levantei a tampa do teclado e pressionei uma tecla. O som encheu o ambiente ecoando por todos os cantos e custou a morrer. Sentei-me no empoeirado banquinho fazendo uma nuvem branca subir. Dedilhei alguns acordes e o piano estava surpreendentemente afinado. Uma empolgação juvenil tomou conta de mim e continuei tocando animadamente.
- Há muito tempo não se escuta música nesse salão. – A senhora estava escorada no umbral da porta e me olhava com olhos tristes.
- Credo! A senhora me assustou!
- Estava só observando. Toque mais se quiser.
- Um pergunta: a senhora tem alguma previsão de quando o combustível vai chegar?
- Não. Como está seu tanque?
- Vazio. Bem vazio.
- Posso te alugar um quarto que tenho aqui em cima. Nada luxuoso: uma cama grande, um relógio de parede e uma geladeira.
- E quem precisa de mais que isso?
Sorrimos e a senhora chegou mais perto do piano cantando algumas canções antigas.

24.11.03

Gente boa, juro que não é por falta de tempo ou de saco que não tenho escrito.
O fato é que sou extremamente crítico com meus textos e antes de soltá-los, quero ter a certeza de que apresentarei a vocês alguma coisa que eu considere boa a ponto de ir ao ar!
Perdoem este escriba...

12.11.03

Sentou-se à mesa munido de lápis e papel, acendeu um cigarro, deu uma tragada e apoiou-o no cinzeiro que tinha furtado de um restaurante. Soltou a fumaça vagarosamente tentando achar formas distintas e sorriu com co canto da boca.
A sala toda estava escura a não ser pelo lustre que ficava exatamente sobre a mesa. Dentro do lustre uma lâmpada concentrava seu facho amarelado sobre o papel e o cinzeiro. Além disso, a casa escura e silenciosa como uma igreja. Percebendo a movimentação seus gatos subiram na mesa para averiguar o que acontecia, ganharam carinhos, festinhas e desceram para continuar dormindo no sofá.
Olhava além do único ponto luminoso da casa e percebeu como a fumaça do cigarro criava formas fantasmagóricas. Tinha a impressão de que a escuridão parecia querer engolfá-lo e torná-lo parte dela.
Recostou na cadeira, deu uma longa tragada no cigarro apagando-o logo em seguida. Fechou os olhos e permaneceu assim por algum tempo. Tinha a nítida sensação de que o tempo havia parado. Sentiu uma moleza e cochilou. Ao acordar, percebeu que estava bem no meio de um campo de alfazemas. O dia ia nascendo e o sol, preguiçosamente começava a despontar no horizonte. Olhou para baixo e viu a leve bruma que subia do chão trazendo consigo, o cheiro inebriante das plantas. Passou os olhos ao seu redor e não havia nada mais do que muitos quilômetros de plantações de flores divididas em enormes retângulos não muito regulares delimitados por uma pequena vala onde a água se concentrava.
Havia papoulas vermelhas, rosas de todas as cores, margaridas, violetas, amores-perfeitos. Sentiu algo frio atingir seu peito e olhando para si, percebeu que estava nu e que o sistema de irrigação tinha sido ligado. Sentiu o cheiro de terra molhada invadir suas narinas, fechou os olhos, fez uma volta completa sobre os pés tentando distinguir todos os aromas presentes e sentiu que em algum lugar distante, estavam queimando lenha. Abriu os olhos e viu fumaça ao longe.
Começou a caminhar na direção da fumaça mas não consegui conter a curiosidade em saber que lugar era aquele. Começou a correr e lembrou-se de que estava nu.
- Como é que eu apareço assim na casa dos outros? – Pensou parando de correr.
Continuou caminhando mas a largas passadas e decidiu que contaria uma história qualquer aos seus possíveis anfitriões.
Chegou até os rústicos e irregulares degraus que levavam até a varanda de tábuas corridas que, devido às intempéries, estavam empenadas e soltas em alguns pontos. Bateu com os nós dos dedos à pesada porta de madeira de lei e correu para trás de um barril a fim de se esconder. Esperou alguns segundos mas não houve resposta. Dirigiu-se à porta mais uma vez e bateu mais forte correndo em seguida para seu barril-esconderijo. Nada. Voltou à porta e girou a maçaneta e a porta abriu forçando os gonzos secos e rangendo alto.
Ao espiar dentro da casa reparou que se sentia estranhamente familiarizado com os móveis e com o ambiente. Não havia televisão na sala. Somente dois sofás de três lugares cada formavam um ângulo reto entre si e que emolduravam uma mesa de centro com tampo de vidro. Sobre a mesa, um cinzeiro com algumas guimbas de cigarros de palha. ouviu um ruído de uma panela de barro sendo postas sobre um fogão a lenha. Em pouco tempo o cheiro de café invadiu a casa. Agora ouvia passos se dirigindo a espaçosa e pouco mobiliada sala.
Sentiu um frio no estômago mas decidiu que não correria nem se esconderia. Um velho magro porém com a musculatura bem definida pelos anos de trabalho braçal. Um cavanhaque já branco e muito bem aparado emoldurava a boca de lábios grossos. Alguns vasos bem dilatados nos cantos do nariz denunciavam a intimidade com o álcool.
O velho voltou-se para ele e os verdes, expressivos e penetrantes olhos verdes encontraram os seus.
- Finalmente você chegou! – Disse com a voz firme – Estou te esperando desde bem cedo. Por que demorou tanto? – Abriu a boca mas não conseguia proferir as palavras. – Nah... não diga nada. Sei o que você está pensando.
- Quem é você – Balbuciou o jovem.
- Não reparou a semelhança? Eu sou você. Somos a mesma pessoa com alguns anos de intervalo.
- Mas que lugar é esse? Como é que isso aconteceu?
- Tem uma hora na vida de uma pessoa, quando se está feliz e equilibrado, em que uma janela temporal é aberta. Ao olhar por essa janela, pode-se ver o passado ou o futuro. Sua escolha foi o futuro
- Esse é o meu futuro? Mas não é nada do que planejei apesar de não me desagradar em nada!
- Essa foi a escolha que fizemos!
- Foi uma boa escolha?
- Foi a grande escolha que fizemos. Aqui somos felizes com nossas flores, o silêncio, o trabalho. Nossos amigos nos visitam com freqüência e ainda por cima, fazemos nossa própria cerveja!
Sentaram se um em cada sofá, bebiam cerveja e fumavam conversando sobre o passado. Riram bastante e lá pelas tantas, foram dormir. O jovem acordou cedo e não se lembrava de ter dormido tão bem assim. Queria conversar com o velho mas não o encontrou. Resignou-se e foi cuidar do trabalho da fazenda. Herança de seu futuro.

8.11.03

Queria rasgar o próprio peito e sair de dentro de si! Se libertar da prisão que lhe era imposta pelos outros, pela sociedade. Queria simplesmente, ser ele mesmo. Só isso.
- Só? E você acha que isso é simples? Como lhe dar com a reprovação alheia? Como mostrar como realmente se é exibindo todos os seus pontos fracos, abrindo a guarda para que pudessem feri-lo? Como explicar que se é sensível, amoroso, carinhoso, compreensível apesar de escutar os problemas dos que o cercam e querer arranjar soluções mirabolantes em um mundo que deixou esses sentimentos todos para trás há muito?
- Talvez porque eu não saiba quem sou ainda! Não completamente! Ainda há portas a serem exploradas dentro da minha mente! Portas que são abertas esporadicamente quando escuto uma música ou vejo um filme que me toca! Portas que ficam no escuro e me é impossível achar a chave! Não que eu não saiba onde ela está porque sei exatamente onde estão essas chaves! Tenho que lidar com meu medo de abri-las e encontrar coisas que fiz questão de esquecer mas que ainda assim, fazem parte da minha formação!
Ninguém se faz sozinho! Todos somos produtos das pessoas que nos cercam, do ambiente em que fomos criados, das coisas que escolhemos...
Queria poder contar que choro feito criança a cada cena de um filme, a cada frase de uma música, a cada elogio que recebo. Mas tenho que encarar os olhares de reprovação ou de estranheza. Queria poder saber o que sei hoje quando era mais novo! Teria feito algumas coisas diferentemente! Não que me arrependa do que fiz, disse ou deixei de fazer ou de dizer. Não nem arrependo de nada. Tenho um sonho utópico de poder mudar as coisas que me cercam, as pessoas tudo! Não que eu ache que meu mundo seja perfeito ou que as pessoas são imperfeitas. Só acho que falta amor, paixão, tesão, compaixão, humanidade, solidariedade, vontade, preocupação com o outro.
Aprenda com o grande ensinamento do cristianismo: AME O PRÓXIMO! Todos temos os mesmo questionamentos, as mesmas aflições, as mesmas inseguranças! Se abra, toque as pessoas! Tem tanta gente por aí que precisa e quer ser tocada. Basta um aperto de mão, um tapinha no ombro. Mostre que você se importa com quem está na rua. Seja gentil com as pessoas. Trate as mulheres como princesas porque elas todas o são e querem ser tratadas assim! Ouça mais música, mas música boa! Viaje nessas músicas! Elas têm o poder de abrir essas portas que a gente mantém trancadas! Tenha boas lembranças por mais que uma separação tenha sido traumática ou que alguém tenha te machucado muito. Tenha carinho! É tão bom ter carinho, dar carinho e ser acarinhado! Saiba dar sem receber ou esperar nada em troca. Peça colo. Dê colo. Escreva, cante, fale, converse, faça arte pois a arte imita a vida! Mostre através de alguma coisa como é a sua vida! Express yourself!! Fique na sua quando se sentir intimista! Você é a melhor companhia para você! Seja fiel às suas idéias, aos seus ideais e às suas crenças mas não seja fanático. Dance como se ninguém estivesse vendo!
Chore de alegria ou de tristeza! Chorar alivia a alma, te deixa mais leve!
Seja seu ego e não seu alter-ego! Mergulhe de cabeça. Se a piscina estiver vazia, o tempo vai tratar as feridas!
Seja você e lembre-se: felicidade não é a chegada e sim o caminho!

N.A: Escrevi esse texto de uma forma que nunca tinha feito antes. Simplesmente fui escrevendo e evitei corrigir erros que geralmente comento mesmo tentando corrigi-los mas espero fazê-lo com o passar do tempo. Acho que esse texto mereceu ir ao ar do jeito que foi concebido.
Chorei muito ao escrevê-lo pois ainda acho que, não só o mundo mas as pessoas ainda têm salvação! Vamos fazer deste mundo um mundo melhor e isso só cabe a nós! E que, fundamentalmente e ao contrário de Maquiavel, acho que todos somos bons por natureza!

30.10.03

Como muitos devem imaginar, hoje é meu aniversário. Este ano uma coisa legal me aconteceu: ao contrário dos outros anos quando eu ficava triste e até meio deprimido por ver que os anos passaram e que eu atingi muito pouco do que a sociedade considera sucesso, me peguei pensando nas pessoas que conheci ao longo dessa 29 primaveras. Descobri que as pessoas que ficaram são as que realmente gostam de mim apesar de eu ser eu, ou melhor, ser assim desse jeito. Descobri que as pessoas que passaram, deixaram marca e que penso em cada uma delas com muito respeito e carinho. Que as pessoas que me sacanearam, fizeram com que eu ficasse mais esperto apesar de fazer com que eu acreditasse que o negócio era “levar vantagem em tudo” e que a lei era a “lei da selva”.
Com isso, reproduzo um trecho do diálogo com uma pessoa muito, mas muito querida que me ligou na virada do dia 29 para o dia 30:
“- ... porque você é meu amigo, amo muito você e eu não quero te perder!
- Mas só sou o que sou por causa das pessoas que me cercam
- Vai tomar no cu!”

29.10.03

Gostaria de pedir mil desculpas pelo meu sumiço. É que essas duas últimas semanas foram as que antecederam meus 10 dias de férias e a coisa ficou muito, mas muito corrida.
O bom disso tudo é que tenho tido algumas idéias que pretendo transformar em textos esperando sempre que vocês gostem!
Um beijo para todos e aguardem só mais um pouco que já, já tem texto novo!

15.10.03

A sala de espera do consultório lhe parecia muito mais impessoal e fria do que o normal. Nem as belas reproduções de Miró e Escher quebravam a monotonia branca das paredes. Esfregava as mãos numa vã tentativa de aquecê-las até que decidiu sentar-se sobre elas. Ato que acabou criando um dilema:
- E agora? Como é que eu faço pra ler a revista?
Olhou ao redor e se viu a sós com a secretária do psicólogo que estava muito ocupada lixando as unhas e nem se importava com o (nem tão) jovem que já estava ficando com os lábios roxos de frio.
Uma senhora saiu da sala ainda enxugando algumas lágrimas que insistiam em lhe encher os olhos. Agradeceu ao médico com um leve aperto de mão e se foi.
- O senhor é o próximo. - Disse a secretária.
Caminhou timidamente até a porta que dava para uma sala ampla e iluminada onde ao fundo, atrás de uma bela escrivaninha e a frente de uma enorme janela, sentava-se o doutor. Havia ainda na sala, um enorme tatame forrado com um belo lençol com estampa de arco-íris próximo à escrivaninha e muitas, muitas almofadas espalhadas. Dirigiu-se ao tatame e largou seu corpo pesadamente sobre as almofadas das mais variadas cores. Fez um amontoado delas, recostou-se e, com os joelhos em arco, abraçou uma almofada.
- Então? O que o traz aqui? - Perguntou o doutor educadamente.
- Fiz uma coisa com a qual não tenho conseguido viver.
- Então vamos falar sobre isso. O que você fez de tão terrível assim.
- Cometi suicídio.
- O senhor quer dizer homicídio?
- Não. Quis dizer exatamente o que disse. Eu cometi suicídio. Uma morte lenta, gradual e sofrida das minhas idéias, meus ideais, minha ética, meu discernimento... todos mortos. Um verdadeiro genocídio.
Vendi meu corpo e minha alma para um emprego que não me trouxe satisfação nem realizações. Troquei o suor do meu rosto por uma pequena quantia mensal. Sem motivação, vi minhas idéias serem trocadas por uma convivência mais lisa com colegas, chefes e afins. Deixei de sonhar, deixei de sorrir. Minhas gargalhadas, tão frequentes, foram silenciando e se tornaram feições circunspectas e meu olhar esfriou. Verti minha vida na pia de pessoas de vida vazia... tudo isso por medo.
- O medo do desconhecido e do fracasso são muito comuns - Interveio o doutor.
- Não tenho medo do fracasso.
- E do que você tem medo?
- Do sucesso.

8.10.03

Todos se despediram dele. Amigos, familiares, passantes. O grupo estava bem perto do portão de embarque e a cena quase comoveu um dos seguranças. Muitos abraços, beijos, tapinhas nas costas, alguns tapas "delicados" no rosto e muitas, muitas lágrimas. Acenou uma última vez e decidiu que não iaria olhar para trás.
Girou sobre os calcanhares, ajeitou o mochilão nas costas e se foi. Sumiu logo após ter passado pelo detetor de metais e dirigindo-se ao portão de embarque lembrou-se de que tinha um certo temor de aviões.
- Quero ver como é que vai ser no dia em que as leis da física forem revogadas... - pensou distraidamente.
A aeromoça falava mas sua voz parecia vir de muito longe. Agradeceu a atenção dela e parou na pista olhando fixamente para o aparelho enquanto se imaginava frente à esfinge pronta para devorá-lo caso não a decifrasse. Tentou sorrir mas o máximo que conseguiu foi um esgar sofrido. Quase abandonou tudo e voltou mas conseguiu controlar o impulso e começou a subir as escadas que o levariam ao interior do avião.
Tudo parecia em câmara lenta. Inclusive as vozes das aeromoças que o recebiam à porta do aparelho. Procurou por seu lugar mas o corredor parecia se alongar mais e mais fazendo com que seu assento ficasse cada vez mais longe. Fingiu indiferença e seguiu pelo elástico corredor. Guardou o mochilão no compartimento e sentou-se pesadamente na poltrona. Levantou-se mais uma vez e, olhandou ao redor, identificou as saídas de emergência. Voltou a sentar-se.
Olhava fixamente para um ponto distante dentro de si.
- Lskfjshdflkkkjefhhhodifh?
- Perdão. O que disse?
- O senhor gostaria de uma bebida antes da decolagem?
- Vodka com gelo e um twist!
- Não temos limão, senhor
- Sem twist então!
A aeromoça esticou o braço para entregar-lhe o copo e ele reparou como as mãos dela eram bonitas e bem cuidadas. Sorriu e agradeceu.
Bebeu tudo em duas goladas e percebeu que tudo voltava a ficar em foco. Infelizmente isso não fez com que a poltrona ficasse mais confortável. Deslisou a bunda até quase o fim do assento mas de pouco adiantou e resolveu parar de lutar contra ele pois certamente perderia a briga. Pediu mais uma vodka e dois goles depois, a poltrona começou a ficar razoavelmente confortável.
A voz do capitão pelo alto-falante avisa que "vamos começar a taxiar a pista". Lembrou-se do quanto sofria nas deolagens e economizou vodka.
Relaxou um pouco após a traumática deolagem e não conseguiu deixar de pensar que todos os capitães dos vôos que tomou gostavam de fazer o avião sacudir bastante só para sacanear.
- Você parece nervoso! - A voz era grave porém, indubitavelmente, feminina.
- É tão óbvio assim?
- Bastante! Esperei a té decolarmos para falar com você. Achei que você ia precisar de uma conversinha.
A mulher, já perto dos quarenta, não era exatamente bonita mas seu rosto era assimetricamente atraente. Tinha a pele queimada pelo sol e uma vasta cabeleira vermelha emoldurava o rosto fino de lábios iguamlente finos que escondiam dentes bem alinhados e muito brancos. Vestia uma calça jeans já bem surradas e uma jaqueta de couro marrom com uma camiseta branca por baixo.
- E eu achando que era um sujeito discreto. Quer um drink?
- Me dá um gole do seu?
- Mas aí você vai descobrir meus segredos. Bom... na verdade eles nem são importantes. - terminou a frase e entregou o copo. Ela bebeu pequenos goles e devolveu o copo com uma mancha vermelha de baton. Ele pegou o copo e achou que o copo plástico com a mancha de baton e a vodka tinham ficado muito bonitos.
- Desculpe. Manchei seu copo.
- Sem problema. Ficou até mais bonito o drink! - ela sorriu e perguntou:
- É a primeira vez que você sai do país?
- Não. Ja tinha saido antes mas acho que dessa vez não volto.
- Hmmm... Vai encontrar alguém?
- Vou.
- Quem?
- ... Eu.

25.9.03

Andava pela rua distraidamente. Quase absorto em profundos pensamentos, reduzia cada vez mais o ritmo de sua caminhada. Parou, olhou para os lados e recostou-se á uma parede, em baixo de uma grande e velha marquise, onde podia observar a multidão que passava. Flagrou-se observando cada vez mais profundamente cada indivíduo e não pode deixar de notar como as pessoas eram tão diferentes e estranhamente tão parecidas.
Médicos, advogados, engenheiros, secretárias, mascates, palhaços, malabaristas, pedintes... tão “indivíduos” e tão... homogêneos. Todos parte de uma grande engrenagem.
Sentiu-se sufocado, preso. Afrouxou a gravata e desabotoou o colarinho numa tentativa vã de respirar. Livrou-se da alça da pasta que cruzava seu peito. Nunca aquela pasta lhe pareceu tão pesada.
- Por que carrego tanta coisa? – Pensou quase falando baixo. Ao colocar a pasta no chão alguma coisa mudou. Começou a rir uma risada contida que aos poucos foi crescendo. Pensava no quão ridículo era aquilo mas não conseguia parar de rir.
Agora gargalhava insanamente. Lágrimas escorriam de seus olhos e sua barriga doía loucamente mas simplesmente não conseguia parar de rir. Não sabia exatamente o que achava tão engraçado. Simplesmente deu vontade de rir.
Os transeuntes se aglomeravam para ver a cena pitoresca.
- Recebeu o salário! – Diziam alguns.
- E viu que não vai dar pra nada! – Completou um engraçadinho de plantão.
Aquele comentário foi demais. Explodiu numa gargalhada descontrolada, ele agora deitava no chão da calçada de uma avenida extremamente movimentada, segurando a barriga e cada vez mais lágrimas escorriam de seus olhos. Com muito esforço consegui se sentar com as costas encostadas á parede e os joelhos arqueados onde apoiou a cabeça tentando recuperar o controle. Respirou fundo, e murmurou um “ai, meu pai.” Enquanto enxugava as lágrimas com a gravata. Respirou fundo e acreditava estar pronto. Olhou em volta e não pode conter a risada que veio como uma onda. Não. Como um maremoto. Definitivamente não conseguia se controlar.
Sentiu uma picada no pescoço e sentiu como se estivesse olhando por um caleidoscópio. Em poucos segundos o mundo pareceu se transformar num grande borrão.
Acordou num susto e depois de algum tempo, percebeu que estava em sua cama. O despertador buzinava incessantemente há meia hora. Desligou-o e dirigiu-se ao espelho do banheiro.
Sentia-se bem. A não ser pela sensação de ressaca e uma estranha picada de mosquito no pescoço.
- Tenho que dar um jeito nesses mosquitos.

23.9.03

Não me aguentei de tanto rir ouvindo essa história ontem!!

Diz a lenda que o Freddie Mercury, na época do Rock in Rio, solicitou à organização do evento, um segurança que fosse alto, forte e que falasse inglês. Mas que se o segurança fosse muito alto e muito forte, o inglês era dispensável!

Ah! Quarta-feria vai ter a continuação de algum dos mini-contos. Ainda não escolhi qual deles e estou aberto à sugestões!

22.9.03

EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

1500 visitas desde o dia 27 de Junho quando inaugurei esse blog que vos fala!
- Mas só? Tem gente aí que tem isso de visitas diárias!
É. Tem mesmo. Mas como eu nunca quis ser estrela do mundo blogueiro, pra mim tá muito é bom!

Voltamos com a programação normal lá pelas nove da noite quando eu vou postar um treco novo!

18.9.03

Não era um sujeito de muitos luxos. Morava sozinho num pequeno apartamento da zona sul do Rio de Janeiro. Sempre que sobrava uma graninha no fim do mês, colocava numa poupança e ia guardando. Não sabia exatamente o que faria com suas economias mas haveria um momento em que saberia. Tinha um feeling...
Um dia, resolveu que ia comprar um carro.
- Um clássico! – disse em voz alta quase sem perceber – e saiu porta a fora decidido a comprar o tal carro.
Comprou o jornal, um maço de Marlboros e foi para casa.
Enquanto preparava um café, parou um instante para apreciar o aroma que apreciava tanto. Pensou que, inclusive, possivelmente gostava mais do cheiro do que do gosto, propriamente dito.
Café pronto foi para a sala onde o jornal e os cigarros o aguardavam sobre a mesa de centro. Sentou-se no sofá, abriu os classificado, passou os olhos sobre as letras negras sobre o cinza esbranquiçado, bebeu um gole do café – forte, de homem, como gostava de brincar consigo – acendeu um cigarro com o zippo que tinha ganho de um grande amigo. Parou um instante e se lembrou de tudo (ou quase tudo) que passaram juntos. Soltou uma gargalhada que ecoou na sala chamando a atenção dos gatos.
- Imagina... Lembrar tudo? Até parece que sobraram neurônios pra isso!
Virou a página do jornal e se deparou com o momento que sabia que viria:
“VENDO: MUSTANG SHELBY GT500 67, PRETO COM FAIXA LATERALBRANCA E COMPRESSOR..
- É esse!! – o grito acordou definitivamente os gatos que subiram na mesa de centro e passeavam sobre o jornal aberto querendo saber o que estava acontecendo – Esse é o carro! Mais do que isso: esse é o momento!!
Foi ao quarto pegar a jaqueta e a carteira. Saiu ventando pela sala e passou rápido como um bólido pela vizinha do segundo andar que se benzeu e voltou para dentro do apartamento. Entrou num táxi e deu as coordenadas ao motorista entusiasmadamente.
Chegando ao local, viu algumas pessoas aglomeradas ao redor do carro e se assustou. Impressão que passou rapidamente quando descobriu que a turba era forma da em sua grande maioria por curiosos e não por possíveis compradores.
Avistou um senhor de uns 60 anos olhando para o carro com um ar de orgulho e tristeza. Era definitivamente o dono do carro. Era capaz de jurar que as lágrimas rolariam a qualquer momento e por conta disso resolveu acabar logo com aquilo.
- Boa tarde! Vi o anúncio no jornal e não resisti!
- Vou sentir falta dele mas não consigo mais me ver nesse carro! Envelheci antes dele.... Quantos anos você tem?
- Faço 30 daqui a pouco!
- Idade boa! E é a última para se ter um carro desses! Depois dos trinta, o corpo vai perdendo um pouco da vitalidade. Sabe como é? O espírito está disposto mas a carcaça não agüenta...
-....
- Sessenta mil. – falou distraidamente – Como é que você vai pagar?
- Depósito na sua conta corrente!
- Ok!
Depois do “ok” nada mais foi o mesmo. Uma vez confirmada a transferência, o metal frio das chaves se chocou com o calor e o suor na palma da sua mão direita. O carro era seu!
- Só toma cuidado com uma coisa - disse o “seu” Rodrigues – Cuidado quando pegar a estrada. Uma vez na estrada pode-se ir atééééé....
- Vou tomar!
Girou a chave na ignição, acelerou e nem sentiu o sorriso que desabrochara! Na verdade sorria tanto que chegava a doer! O som do motor fazia com que o mundo ao seu redor fosse sumindo aos poucos e o cheiro de gasolina era inebriante.
Foi-se aos poucos observando no retrovisor que o “seu” Rodrigues o observava e enxugava o rosto com uma estopa velha.
Encostou o carro, passou a mão no telefone celular e ligou para uma amiga:
- Linha? Preciso de um favor... Você cuida dos gatos pra mim? Preciso fazer uma coisa fora da cidade e vou ficar uns dias fora.
- Claro! A chave ta debaixo do carpete?
- Ta! Faz o seguinte: passa uma temporada lá em casa até eu voltar! Preciso que você molhe as plantas também....
- Quanto tempo você vai ficar fora?
- Um tempinho! Nada de mais!
- OBA!!! Posso ficar lá até você voltar?
- Pode! Só precisa manter a casa arrumada!
- Sem crise!!
Desligou o telefone e o colocou em cima do banco do carona. Dirigiu até a fronteira da cidade com o som ligado no máximo! Parou o carro assim que cruzou a fronteira do estado. Pegou o telefone celular e o jogou no meio do mato. Tirou o relógio de pulso, largou no asfalto e pisou em cima assistindo os intestinos do relógio voarem longe!
- Hoje ninguém me controla!!! Born to be wild...!

13.9.03

Finalmente escrevo de casa!
Nada contra enscrever do escritório mas a nossa casa tem um conforto inigualável. Aqui estou eu, bebendo um bom vinho tinto, fumando uns bons Marlboros, escutando Save Me e... escrevendo!
Acabo de chegar de uma chopada com grandes amigos: Carlinhos e Figueiredo. Gente que conheço há 15 anos!
15 anos... e a gente passou por tanta coisa, bicho! Mas algumas coisas me chamaram a atenção na noite de hoje.
Coisa 1: O Figueiredo nunca foi o centro das atenções mas é um sujeito cujas opiniões são ponderadas e dignas do máximo respeito. Fala pouco mas fala o certo na hora certa! É o tipo do sujeito que, quando emite uma opinião, as outras pessoas prestam atenção e esse é uma qualidade rara hoje em dia.
Alpem disso, tem um humor.... legal, leve. Bom de copo também!
Coisa 2: Conversávamos sobre música e já há algum tempo eu reparei como os dois foram importantes na minha formação musical.
Aprendi a gostar de Rock com eles. Foi na época em que eu jogava tenis que conheci Steppen Wolf, America, Bad Company e tantos outros que, se eu fosse listar, levaria alguns posts quilométricos.
Não queria deixar ninguém de fora desses créditos mas isso é quase impossível pois são tantas músicas e tantas pessoas... Mas queria repetir o que eu disse à mesa: graças a essas pessoas é que gosto do que gosto.
Claro que a outra parte da minha formação (a mais importante) se deve, principalmente à mamãe. Ela que cantou em coral por 15 anos, que sabe tudo de bossa nova e me preparou o ouvido pra todas as coisas que ouço.
Um outro dia eu conto o meu processo de descobrimento....
Coisa 3: Não qu eu tenha fica decepcionado mas quando a conversa começou a girar sobre os filhos dos dois, Carlinhos veio com uma declaração que me causou estranheza. Ele disse que jamais aceitaria se o Felipe (desculpe aê, nêgo. Não sei se é Filipe ou Felipe) fosse gay.
Posso falar pouco sobre isso porque não tenho filhos. Mas tentando me colocar na pele dele, acho que eu aceitaria. Possivelmente não seria numa boa mas, afinal, seria meu filho.
Dizem que a gente só deve dar conselhos a quem pede e eu sei que você não pediu mas aí vai um: filho a gente deve criar para o mundo, como se fossem flechas. As nossa opiniões passa, a ser somente isso: opiniões! São eles que vão decidir o que fazer da vida deles!
Mas eu tenho certeza que essa preocupação é infundada e que, mesmo se não for, o quanto você ama o Fi(e)lipe vai falar mais alto e isso vai te fazer aceitar o que quer que seja!

10.9.03

Você parece se ajustar perfeitamente
A uma garota que precisa de um torniquete

Mas você pode me salvar?
Vamos! Salve-me
Se você pudesse me salvar
Das filas dos anormais
Que suspeitam que nunca vão amar alguém

Pois eu posso ver
Que você sabe como é
O longo adeus da greve de fome

Mas você pode me salvar?
Vamos! Salve-me
Se você pudesse me salvar
Das filas dos anormais
Que suspeitam que nunca vão amar alguém

Você me deixou boba como Rádio
Como Peter Pan ou Superman

Mas você virá me salvar
Vamos! Salve-me
Se você pudesse me salvar
Das filas dos anormais
Que suspeitam que nunca vão amar alguém
Dos anormais
Que suspeitam que nunca vão amar alguém
Mas os anormais
Que suspeitam que nunca vão amar alguém


Essa é uma música da Aimeé Mann chamada "Save me" e a tradução é minha!

3.9.03

Ai, ai....

Não foi nada de mais mas algumas preocupações (financeiras inclusas, é claro) me tirarm do páreo por alguns dias!
É assim mesmo: quando a cabeça não pensa, o corpo padece. Hojo conversando com a minha querida VPO, comentei que essa é uma época meio conturbada do ano pra mim. Há exatos quatro anos eu conhecia o que uma pessoa que me ajudou muito e se hoje eu tenho planos e alguma ambição, é por causa dela.
Viver sem ambições não é legal não, viu! A gente tem que ter alguma meta na vida senão, a vida passa pela gente e não a gente por ela que é como deveria ser. Fiquei tristinho sim. Acontece... é raro mas acontece.
Agora é bloa pra frente e rumo ao Canadá!!

27.8.03

Vc já pegou o metrô até a pavuna? Reparou que a linha acaba alí? Que é diferente da Saens pena e de Copacabana, que a estação acaba, mas a linha continua pra dentro daquele buraco escuro, que leva o trem para algum lugar... Pois é... na Saens Pena e em Copa, é o fim da linha, mas existe uma promessa de continuar... Às vezes eu me sinto na estação da Pavuna.

Noutras, me sinto em Copa ou na Saens Pena; prestes a entrar no buraco escuro...

Pois é... Pra esses lugares existem projetos pro futuro... Já existe até a estação nova da S. Campos, esperando somente o trem ir pra lá... Mas na Pavuna, no final da estação, só tem um saco de areia no trilho. A linha acaba ali. Não tem mais pra onde ir, a não ser voltar...

Por enquanto.

Porque podem surgir projetos novos; retirarem os sacos de areia dali e estenderem até campo grande...

E dali, até mais longe; como os trens. E fazerem outras linhas, outras baldeações... Não será mais preciso voltar.

Ninguém se importa com a baixada... A baixada é pobre, triste e desolada... Como por vezes somos por dentro...

Não volte. Tire os sacos de areia e construa novos trilhos. mesmo que seja para a baixada ou Duque de Caxias... É o seu caminho e ninguém tem o direito de dizer que ele é feio.

Não é o caminho que eu queria...

Então entre no escuro de Copa ou da Saens pena. E vá atrás do que vc quer.

Sempre.

25.8.03

Era sábado de manhã e ela não tinha acordado ainda. Dormia numa paz tocante com a boca entreaberta e reparou como ela ficava bonitinha dormindo assim. Pensou também que pouquíssimos adultos pareciam bonitos dormindo com a boca entreaberta mas ela ficava quase angelical.
Levantou-se, passou por cima dela que resmungou alguma coisa com os saculejos da cama e, já de pé, deu uma outra olhada na paz que rosto trasmitia e deu-lhe um beijo na testa. Reparou que hoje, o despertador não parecia rir dele como faz durante a semana. Inclusive o observava com um certo ar de tristeza por não poder acordá-lo. Sorriu e pensou:
- Hoje não!
Foi até a cozinha preparar um café e fumava uma cigarro enquanto vigiava a chaleira. Lembrou-se de sua mãe:
- Bule vigiado não ferve! - Sorriu e teve que segurar uma vontade insana de gargalhar. Lembrou que sentia uma saudade imensa dessa frases que sua mãe costumava dizer.
- Meu filho, a situação está negra como as asas da graúna! - Essa era uma das preferidas dos dois.
Preparou o café forte como fazia sempre e foi se sentar na sala. Olhou para o piano que ficava com a cauda virada para uma janela enorme e retangular de onde se via boa parte da praia. O dia lhe pareceia bonito apesar da ameaça de chuva e dos relâmpagos que se avistava no horizonte. Sentou-se ao piano e começou a dedilhar "Volare, Volare!" com a mão direita enquanto a esquerda se dividia nas tarefas de segurar a caneca e o cigarro entre os dedos. Começou a achar que poderia causar um acidente com o excesso de funções desempenhadas pela nem tão precisa mão esquerda. Apoiou o cigarro em um cinzeiro e a caneca sobre o piano e agora, com as mãos livres, tocava com um pouco mais de concentração e menos displicência porém ainda tinha o olhar pregado no movimento das ondas. Parou de tocar, bebeu um gole de café e deu um trago no cigarro. Continuava olhando parar a praia e para os relâmpagos ao fundo como se os anjos tirassem fotos do seu recital improvisado ao piano.
- Já que estão tirando fotos vou tocar uma coisinha mais legal.
Começou "Clair de Lune" e se sentiu um daqueles pianistas exêntricos. Riu e se permitiu concentrar profundamente no que estava tocando.
Fez uma pausa dramática na execução brilhante, olhou para a janela mais uma vez e viu que um raio de sol passeava entre as nuvens chegando a té a superfície do mar e deixava um rastro dourado. O mesmo raio de sol atingiu seu rosto fazendo com que fechasse os olhos. Ao fazê-lo, teve a impressçao de que a música o invadia. Tocava cada vez mais emocionadamente e o mundo ao seu redor pareceu se dissolver. Só existiam ele, o piano, a praia e o raio de sol.
Ao acabar a música, ainda de olhos fechados descansou as mãos sobre as teclas e respirou fundo. Levou um pequeno susto ao sentir que as mãos dela tocaram seus ombros e foram descendo por seu peito até seus braços se enroscarem em seu torso. Ganhou um beijo no rosto e escutou a voz sonolenta (ele achava extremamente sexy a voz dela assim que acordava) dela dizer que nunca tinha escutado tanta devoção numa música tão conhecida e simples.
Ele se virou de lado no banquinho e ela se sentou no seu colo.
Ao longo de toda a manhã os dois permaneceram assim abraçados e olhando para o único raio de sol que ainda brincava sobre as ondas.

20.8.03

Bem.

Entre nomeações e revelações, cá estamos nós. E como agora tô de bób porque tirei férias da torre, ADIVINHA AONDE VOU INFERNIZAR AGORA? Uma chance.

PÉÉÉÉÉÉÉÉ.

Respota EEEEE
EEEEEE
EXATA!

Aqui. Bonitinho, não?

Então, prá todo mundo ir se acostumando com o meu jeito descoordenado-brega-nonsense-absurdo, aí vai um "pequeno" texto que redigi durante a minha aula de PSICOLOGIA DA PERCEPÇÃO - vêem? sou chique no último. Então, quem tiver paciência, lê. Quem não tiver, sei lá, xinga, diz que eu tenho qeu parar de escrever essas coisas longas e tal.

Aí vai.

"Era mais do que tão somente vento no litoral; era sopro de vida que sacudia seu frágil corpo equilibrado em saltos que em nada combinavam com a paisagem e os transeuntes que trajavam tênis e moletom. Mas ela parecia não se importar; mero detalhe, ela estava ali, plena terça-feira, sentindo o cair da tarde sobre seus ombros de leve e com um suspiro continuava a caminhar, bolsa pesada, casaco a tira-colo - pode esfriar - e um acaso nunca foi tão bem-vindo quanto hoje.

Hoje, que tanta coisa pareceu pesar e o ar do escritório vinha mais denso que de costume; hoje, que essa saudade nada nômade cismou de explodir de repente, hoje ela não aguentaria não respirar por mais um dia.

Há quanto tempo não fazia isso? Em dia de semana, talvez nunca. De verdade. E passou a se perguntar se isso tudo tudo de corre-estuda-trabalha-come vale a pena. Não, mas isso não vinha ao caso, não naquela hora.

Acabara de ouvir a sua voz. Era alguém feliz, afinal. Andou por talvez alguns postos da praia de Copacabana, até que resolveu sentar-se num banco, perto do Forte. Há qunato tempo não via o forte? Céus, era ainda uma criança quando veio pela última vez e não tinha discernimento para perceber o quanto era bonito. Bonito não, lindo. Lindo não, maravilhoso. Ou será que eram seus olhos e sua idade e seu momento que a faziam ver com aquela cor?

Aquela cor, meu deus, aquela cor. Aquele cheiro salgado e o sol se pondo, o Pão de Açúcar ficando vermelho e ela lá - sozinha. Frente a tudo aquilo lindo e indo e vindo e passando tudo ao mesmo tempo, aquela sensação sublime e a vida inteira antiga passando feito um filme e a vida inteira futura também passando - só que meio branca, porque ela ainda não rascunhou as palavras todas, mas não fazia diferença, porque mesmo com tudo isso e essas coisas todas girando e girando, ela só pensava em você.

E mesmo sentindo-se quase evaporando em forma de felicidade, essa ponta a deixava sólida e líquida, com lágrimas que ousavam querer misturar-se àquele mar que batia e batia e parecia ser no ritmo desse coração que lamnetava a sua falta ali.

Ela me contou tudo isso, quando caminhava rumo à Ipanema, deixando Copa e o Forte e o choro prá trás; a noite vinha a galope e depois de prédios e ruas e carros, a Lagoa.

E era tão ou mais bela e sublime, negra e iluminada e perturbadora, porque não o trazia até ela, que fez uma oração ao pé do Cristo; era algo meio soluçado, quase não dava prá entender, mas falava de amor e de te ter com ela, seu naior desejo hoje. Hoje e sempre, porque depois de viver esses dias de solidão, cada dia corrido ao seu lado terá de ser celebrado como bênção e nunca poderá ficar em branco, sem arte-final, porque vc por si só é a comemoração suprema da vitória.

Olhou o relógio do telefone, porque fez o favor de quebrar o de pulso que tinha, e já era tarde; andou rápido e o salto não aguentou, quebrou-se tbm, droga, teria de andar mancando ate às onze da noite; hora em que vc começa a se preocupar de verdade, e que ela liga; quantas vezes vcs se falam por dia?

Ainda que fosse o dia inteiro, não diminuiria a saudade que ela sente de ti, e eu sinto isso. Sinto tanto que até eu, feixe estreito e racional dela, passo a pensar e agir em direção a vc, por todos os momentos da minha vida."

MELOOOOOOOOOSO.
Mas eu sou ridícula assim mesmo.


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Aí, Presí ( minha abreviação para Presidente ): a gente temos que mudar o layout dessa budega.... Conversemos sobre isso imersos em cerveja e boa música.

Sem mais,
Menina.

19.8.03

Acho que todos já sabem mas achei melhor comunicar, deixar público!
Apresento a vocês a nova VICE-PRESIDENTE DE OPERAÇÕES DO DESCOBRIQUE...: MENINA "PANGA" DA TORRE!
Seja bem-vinda e nós da equipe DESCOBRI QUE... através do seu presidente (eu, claro) acreditamos que você fará um excelente trabalho.

Depois você vem aqui e faz a coreografia dos bonequinhos, tá?

18.8.03

Não, gente boa!! Eu não morri! Ainda vou azucrinas vossas vidas por muito tempo!
Agora sério: as coisas estão caminhando e estão caminhando o que promete ser uma distância looonga... até o Canadá! É isso aí, meninos e meninas. Vou morar no Canadá por um período que ainda não sei se será breve ou longo. Quero ver se trabalho um pouco no que eles chamam de subemprego (passear/lavar cachoro, lavar pratos.... ) mas que pagam alguma coisa por volta de 10 dólares canadenses (mais ou menos assim 1dinheiro canadense=2dinehros tupiniquins), juntar uma grana, voltar pra cá e aí sim, decidir o que eu vou fazer da minha vida. Um grande amigo meu manifestou interesse em ir também o que baratearia os custos de permanência lá fora.
- Mas, Marcio - meu filho, de onde você tirou essa idéia?
Foi assim: noivado terminado, duro feito um côco mas chegando perto de pagar tudo e a todos que devo, resolvi que, se for pra passar por pindaíba, que seja em moeda estrangeira!
Tenho alguns poucos porém fiéis amigos aqui no Brasil que tenho certeza, vão me dar uma puta força apesar de não contarem com a minha presença física. Tenho mamãe que me ama mas, como toda mamãe passarinho, já está empurrando o filhote do ninho e o filhote é que está relutando em sair. Tenho uma gata que é uma lady inglesa e não dá muita bola para humanos mas vai se distrair com as perturbações do tio dela (o gato da minha mãe que é um porre mas é uma graça).
Na verdade estou deixando coisas valiosas aqui mas é só por um período. E além do mais, ainda tenho esse espacinho aqui para entretê-los com minha aventuras numa terra distante!
Vai ser legal! Vocês vão ver!

14.8.03

DESCOBRI QUEeu sou uma pessoa muito mais suscetível a sonhos do que eu imaginava; que acordo e sinto tão ou mais forte do que estava acontecendo em minha mente, e sinto cheiro, gosto, dor, quente e frio, uma loucura.

Tento entender, mas não consigo. Não vejo sentido em muitas coisas, nada encaixa ou tem coesão, mas por vezes acontecem coisas que têm todo um porquê, toda uma justificativa pra acontecer.

Essa noite eu sonhei com um neném. A minha filha, uma menina, que eu quero tanto ter um dia. Ela era assim, de uma pele branca e um cabelo negro lindo, olhos eu não podia ver, porque acabava de nascer de mim e portanto ainda não tinha força para mostrar-me a íris. Nascia em casa; eu não sentia dor alguma, e ele a pegava no colo e sussurrava algo; ela ficava quietinha ouvindo, um momento mágico dos deuses.

Não vem ao caso relatar por que isso mexeu tanto comigo; basta dizer que a minha sensibilidade para crianças me espanta e, embora eu estivesse muito feliz lá, naquele sonho que eu não queria que acabasse, acordei com um vazio imenso no peito e um medo de nunca mais poder realizar a cena. E nem o sonho.

..:: Porra, essa pílula tá acabando comigo. Olha como eu tô fresca?????

13.8.03

DESCOBRI QUE completar quatro meses com a pessoa que se ama incondicionalmente e de olhos fechados é como se lambuzar de sorvete de creme com geléia de morango: antes o napolitano era o melhor, mas agora, nem ele consegue desviar o seu olhar - e a sua colher.

":)

11.8.03

PEDIDO PÚBLICO DE DESCULPAS E UM POUCO DE AUTO ANÁLISE:

Desculpe mesmo! Apesar de conhecer a grande maioria das regras de etiqueta e, consequentemente, saber que não deve falar mal dos amigos alheios, eu continuo fazendo esse tipo de burrada!
É claro que você tentou defender. Se você falasse mal da Pedrita, eu faria a mesma coisa!
A verdade é que eu estou ficando velho, rabugento, mal humorado e ranzinza! Tem jeito não! Se alguém aí já viu aquele seriado que passa na TV a cabo "Becker", aquele personagem foi inspirado em mim!
Tem uma outra coisa também: há tempos que eu venho planejando fazer alguma coisa bacana pra você e pro seu namorado lá na minha casa. Achei que no próximo fim de semana eu ia poder juntar o fato de ele estar aqui e de ter a casa vazia.
Paciência.... Sabe quem perde com isso? Eu.
Descobri que eu sou uma adolescente pró-romântica-melosa-babona-cor-de-rosa, daquelas que desenham coração em porta de banheiro público, porque algo de errado eu tenho de fazer. E com flecha, nome Fulana e Beltrano, essas coisas bregas e piegas e maravilhosas que nos assolam em certos momentos da vida.

Então, eu escrevo litros de textos que se forem torcidos, derramam melado, ou algo tão doce quanto, e tenho medo disso tudo enjoar. Descobri que esse medo é até sadio, e que não pode me travar a escrita, porque "afinal, escrever não é romancear os sentimentos"? É, amigo. É muito mais que isso, eu acho.

E talvez eu tenha descoberto que colcoar em linhas meio tortas e bambas o que se sente - isso sim, seguro e confiante - é de certa maneira uma forma de abrir mais uma porta para o outro entrar e sentar-se mais perto daquilo que vc possui de mais precioso no peito e não, eu não falo de mamilos, falo de algo maior e tão sensível quanto, porém não ao toque. Ao olhar. Ao dizer baixo no ouvido o quanto te ama.

É, tá vendo aí? Eu tô um saco. Porque eu só tenho pensado nisso, mesmo com os quilos prensados de problemas que eu tenho a resolver todo santo dia, e mesmo tendo que me concentrar em outros assuntos. Droga de vida. Maravilhosa vida.

Por favor... me dá um tapão nessa cabeça oca pra ver se o saquinho de lágrimas que fica dentro de mim estoura de vez e seca? Porque não é possível que eu produza tantas assim.

10.8.03

Silvio Santos vem aí
Olê, Olê, Olá.

Tô voltando, patrão.

8.8.03

Ai, ai...
Esses dias eu comentava com uma amiga e acabei comentando com outra amiga que só de pensar em sair com alguém me causa uma vontade incontrolável de ficar em casa.
Explico: não é que eu queira me tornar um eremita, sabe? É só que só de pensar em todo o investimento emocional que se faz, todas as promessas, todos os planos ... pode acontecer de nada dar certo. Isso faz parte, é claro. Mas eu estou um pouco escaldado por enquanto. E não me entendam mal! Eu não sou rancoroso e guardo na memória, só as coisas boas dos meus relacionamentos.
"modo flash back on" ou "modo good times 98 on"
Cena: Sujeito magro, razoavelmente alto escolhe um CD em uma das gôndolas de uma grande loja de CD's. Levanta a cabeça e avista uma moça não necessariamente bonita mas com um charme hipnotizante ao se mover, ajeitar o cabelo atrás da orelha e estar absorta na escolha do CD.
Nosso protagonista olha e se sente atraído por sua beleza da mocinha que está duas gôndolas depois da que ele se encontra. Em um átimo de segundo ele pensa: "quais CD's tem ali naquela gôndola? Hmmm... jazz com as letras 'C' e 'D'! Droga! Não dá pra ver o que ela está escolhendo! Tenho que chegar mais perto..."
O rapaz muda de gôndola o que faz com que a próxima, seja a gôndola em que ela estava correndo os olhos pelas lombadas dos CD's. Ele tenta inutilmente ver o que ela está escolhendo, desiste e vai até a gôndola onde ela estava. Parado ao lado dela e fingindo escolher um CD, ele percebe que ela além de atraente, é muito cheirosa. Não cheira àqueles perfumes femininos tão adocicados que causam náuseas. Seu perfume era discreto porém marcante.
Por obra do acaso, os dois esticam a mão para pegar o mesmo CD ao mesmo tempo. Meio envergonhado e meio divertido ele a olha nos olhos e pede desculpas com um meio sorriso nos lábios. Sentiu a temperatura do rosto aumentar bruscamente quando suas bochechas coraram. Baixou o rosto com um pouco de vergonha. Ela retribui o sorriso e diz que não foi nada. Muito gentil, ele pega o CD e entrega a ela que agradece meio desconcertada com a situação. Ela olha para os olhos dele e, finalmente, ele acha que a partir daí, ele pode ter uma chance.
Ele pensava constantemente que não era um sujeito bonitão do tipo que chama atenção na rua mas sabia que tinha um belo par de olhos e que seu olhar poderia hipnotizar. Era sincero e ao mesmo tempo escondia alguma coisa. Pelo menos ele pensava assim.
Enquanto ela olhava as músicas do CD ele se encheu de coragem e disparou:
- É pra você o CD?
- Mais ou menos.
- Desculpe perguntar mas é tão raro ver mulheres comprando CD's de jazz para si próprias...
Continuavam se olhando e ela percebeu que não conseguia desviar o olhar. Ele não percebeu isso e continuou:
- Principalmente bee-bop! Sempre tive em mente que mulheres preferissem sons menos dissonantes. Tipo Chet Baker ou algum outro compositor mais melódico.
- E você não está errado. Esse é para o...
"Pronto! É pro namorado!"
- ... meu pai! É aniversário dele!
"Ufa"
- Quer ajuda pra escolher?
- Imagina! Não quero atrapalhar a sua escolha.
- Não atrapalha não! Até ajuda! Quer?
- Quero.
então ele se dedicou a ajudá-la. A cada CD que ele sugeria, ele olhava fixamente para os olhos dela e reparava como ela era bonita e ... simétrica! Não era daquelas que tinha muito de uma coisa e nada de outra. Tinha uma beleza pouco comum.
O dia estava frio e meio chuvoso e ela usava uma saia longa, cinza que cobria o cano das botas pretas. A jaqueta de couro sobre uma camiseta branca e uma boina cinza na cabeça que deixava alguns cachos dos seus negros cabelos escaparem pelo lado e muitas vezes ficar sobre suas orelhas. O que fazia com que ela repetisse o gesto tão banal de prender o cabelo atrás das orelhas mas que ele achva chamosíssimo.
Ele reparou que apesar das roupas de cores escuras a beleza dela ainda brilhava. A pele clara, os olhos amendoados, os dentes muito brancos e perfeitos. Talvez ele tenha se apaixonado mas lutou contra esse pensamento pois não se achava pronto ainda.
Em dado momento ele reparou que havia um quarteto no canto da loja e que uma jam iria começar. Respirou fundo, se encheu de coragem e...
- Olha... eu possivelmente não deveria dizer isso mas acredite ou não, há muito tempo eu não o faço ! Eu estou encantado por você! Umas duas vezes eu me peguei querendo desviar os olhos dos seus mas não consegui. Eu queria muito te conhecer melhor. Será que você não beberia um refrigerante ou uma cerveja comigo ali no bar? Tem um quartetozinho ali e parece que eles vão começar daqui a pouco.
- Claro! Achei ótima a idéia e gostei da sua sinceridade!
Os dois escolheram uma mesa, sentaram-se e pediram seus drinks. Ela pediu uma dose de conhaque pois estava com frio. Ele, com um pouco de frio também, pediu um screwdriver.
De repente ele foi atingido por um piano em pleno descampado.
"O que é exatamente que eu estou fazendo aqui? Contando a história da minha vida pra uma mulher que eu conheci há pouco tempo como se daqui fosse sair alguma coisa!"
Ficou um pouco triste ao descobrir que sentia falta da estabilidade de um relacionamento. Da troca de confidências, da confiança em outra pessoa e dessa pessoa em você. Ma descobriu também que talvez não estivesse pronto. Não agora.
Tudo que ele temia passou pela sua cabeça como um filme. "E se eu não causar uma boa impressão?" "E se eu me apaixonar e ela não?" "E se ela se apaixonar e eu não?" "Peço o telefone dela? Se eu não pedir pode parecer que eu não estou interessado mas, por outro lado... ela pode achar que eu me interessei demais e me dar o número errado...."
Enquanto ele falava, contando os livros que leu, os filmes que adora e as músicas que venera, ela se inclinava para frente e apoiava o queixo sobre as mãos entrelaçadas. Seus olhos brilhavam mas ainda assim, as aflições dele não permitiam que ele percebesse isso.
Mais uma vez ele se encheu de coragem e disse olhando para o relógio:
- Nossa olha a hora!
- É o tempo passou e eu nem notei!
- Adorei o papo contigo! Você vai me achar abusado se eu te pedir seu telefone e te ligar no fim de semana para um replay disso?
- Claro que não!! ... Toma aqui! Mas é pra ligar, tá?
- Vou ligar sim! Que tal na sexta?
- Considerando que hoje é quarta... sexta está ótimo! Mas liga mesmo!
"Merda! Ela tá insistindo demais! Esse número é errado com toda a certeza"
- Ok! Então... até sexta!
Se despediram com dois beijinhos no rosto e ele, tão convencido de que daquele mato não ia sair coelho, não se deu ao trabalho de acompanhar a saída dela perdendo a olhadela que ela deu para ele antes de sair da loja. Mas o mais marcante é que ele não acreditou quando na quinta feira às oito da manhã o telefone tocou e ele despertou com a voz doce dela dizendo que não agüentaria esperar até sexta...

4.8.03

Tinha entrado na primeira estação do metro e estranho o quão vazia estava. Olhou ao redor e viu umas poucas pessoas com ares um tanto ou quanto ranzinza mas se conformou que aquela era a expressão “normal” que se via nos rostos de quem transitava pelas ruas da cidade.
Enquanto esperava a composição achou que seria engraçado reparar se as pessoas tinham a “cara” da roupa que vestiam ou vice-versa. De fato a brincadeira estava divertida e ainda fazia com que a espera parecesse mais curta.
Viu uma moça bonita vestindo uma roupa bem simples: calça cáqui e uma camiseta também em tons pastéis. Combinavam com a pessoa sim. Porque não? Ela era bem bonitinha, usava óculos de gatinha (o que talvez não fosse condizente comas suas roupas ou estilo de ser) e os cabelos castanhos que lhe batiam no ombro, estavam comportadamente escovados e brilhosos.
Mas o mais curioso da viagem aconteceu quando já estava sentado e o trem já havia andado umas três ou quatro estações.
um senhor já bem velhinho entrou no trem trajando um elegante terno cinza de risca de giz. As listras eram bem suaves e ele achou que talvez não tivesse reparado nelas se o velhinho não estivesse realmente elegante.
- Possivelmente vai resolver alguma coisa importante. Deve ser seu melhor terno. – Pensou nisso distraidamente enquanto checava, pela enésima vez, se os papeis estavam dentro da pasta e se ficaria nervoso na hora do encontro com o cliente.
Tudo checado, tudo em cima, voltou a reparar no velhinho. Com isso, reparou também que algumas pessoas olhavam para ele e se divertiam. Riam veladamente e algumas faziam força para prender o riso. Achou aquilo uma afronta e resolveu averiguar o porque da chacota.
Levantou-se e ofereceu seu lugar para o velhinho elegante. O velhinho agradeceu muito educadamente mas ainda assim, pareceu um pouco incomodado com a minha atitude.
Por estarem um pouco distantes, o velhinho teve que andar uns três passos para chegar até o assento vazio. Nesse meio tempo, pode perceber que havia um mafuá de fita adesiva presa na sola do sapato do velhinho. Tanta fita fez aquilo parecer um laço de fita grotesco e sem a graça brilhante das fitas que embrulham nossos presentes.
Ao ver que esse era o motivo das risadas alheias pensou numa forma de retirar o falso e esdrúxulo laço de fita ou de avisar ao velhinho. Diante da elegância do mesmo achou por bem tirar o ridículo enfeite sem fazer alarde.
Com um movimento de quadril conseguiu passar para o lado do velhinho onde estava o infame bolo de fita. Pisou firmemente sobre um pedaço de fita e viu que a mesma desgrudara do pé do velhinho.
Distraidamente pensou – Sapatos bem engraxados! Não merecem isso! – Ficou em pé de modo que veria o velhinho a todo tempo. Quando percebeu que a estação do senhor tinha chegado, ficou observando até que as portas se fecharam com um apito estridente.
O velhinho saiu do trem, ajeitou a gravada e o colete, empertigou-se e foi andando resolver o quer que fosse.
E ele ali. Ainda se sentindo bem. Olhou ao redor e se sentiu melhor ainda por perceber que ninguém reparou no que fizera e esse, foi sua grande recompensa.

31.7.03

Já que virou bagunça vamos bagunçar!
Só tem um problema: EU NÃO SOU BAGUNCEIRO!!!! Fui quando era criança mas eu consegui absorver quase todas as manias-de-limpeza-que-beiram-a-paranóia de mamãe e, de vez em quando, me pego consertando o posicionamento dum objeto qualquer por não estar formando angulos retos com o móvel que o sustenta.
Juro que estou fazendo o possível para me tornar um pouco mais relapso ou socialmente relaxado.

Hoje de manhã, sentado no troninho, li que no estado do Rio de Janeiro, a extração de petróleo e exploração do gás natural rende royalties. Esses royalties são convertidos em verbas para a FECAM (Fundo Estadual de Conservação Ambiental), por exemplo.
Na mesma matéria, Paulo Gramado diz que a nossa prezada governadora Rosângela Matheus (sim porque Rosinha Garotinho, ninguém merece) enviou à Assembléia Legislativa, projeto de Lei que reduziria de 20% para 5% o valor repassado para a FECAM paralisando assim, as obras de despoluição da Baia de Gauanabara e do Emissário da Barra.
Indignado, o deputado estadual Carlos Mink (PT-RJ) nos agracia com a seguinte pérola: "Desse jeito vamos perder as olimpíadas"
Penso eu o quão glorioso seria para o Brasil, sediar tamanho evento.
Como é sabido, existe uma cidade "base" e outras cidades que sediariam alguns outros esportes olímpicos.
Agora imaginem vocês que São Paulo sediaria os jogos de basquete, por exemplo. Estamos na final do torneio olímpico do referido esporte e o jogo não poderia ser outro senão Brasil x EUA e o Brasil se sagra medalhista de ouro.
Descobre-se depois que o jogo foi ganho por W.O. pois a delegação americana não conseguiu chegar ao estádio devido ao pesado trânsito.
Melhor ainda: final olímpica do futebol, sediada no Rio de Janeiro, entre Brasil e Nigéria. As duas delegações se aproximam do (ex) maior do mundo para a tão esperada final. Ao se aproximarem um pouco mais, se deparam com as ruas vazias, sem ônibus e apenas uns poucos ambulantes vendendo quelas bandeirolas meia-boca e umas cornetas com defeito.
Mais ao longe, vislumbra-se alguns sujeitos vestindo roupas pretas, muitos cordões de ouro e os rostos coberto por balaclava (tá bom... toca ninja). "Escolhido" por seus companheiros, um membro da CBF se aproxima de um dos "guardas" e pergunta o que está havendo
- Ah, Dotô! Hoje não tem jogo não porque o hômi mandou fechar tudo!
Claro que isso tudo é ficção e a grande verdade é que poderemos perder as olimpíadas por causa da redução da verba da FECAM.
E eu aqui pensando que... humpf!

30.7.03

Ô.

Tô de volta. Mais maravilhosa que nunca.
[ cof cof cof ]

Descobri que tenho um "AH" especial.
É, porque existem vários tipos de "AH", e funciona mais ou menos assim:

O "AH" de satisfação,
de desejo,
de surpresa,
de alegria,
de tristeza,
de decepção,
de raiva,
de injúria,
de desprezo,
de consolo,
e de um monte de outras coisas que eu poderia listar.

mas o meu AH em questão é o de histeria, de desespero. Porque eu quis gritar, mas o AH foi grande demais e acabou estuprando a caixa de comentários, o que foi uma pena e ao mesmo tempo, a diversão de marmanjos letrados e competentes....

Então, para vcs que amaram o meu AH, e que mesmo sendo puxa-sacos eu considero como um elogio e com direito a trilha sonora imaginária, imaginem agora um BLOG INTEIRO pronunciando expressões de filme pornô, porque o que farei agora será inesquecível.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH...

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Pronto, Marcio.
Toda a sua intenção de fazer um blog sério e inteligente foi por água abaixo.
Desculpa aê.

28.7.03

Finalmente Magnólia!!

Paul Thomas Anderson (de "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" e do recente e mal comentado "Embriagados de Amor") cantou, dançou e acabou com a festa! Traduzindo: escreveu, produziu e dirigiu o que talvez seja um dos filmes mais cheios de simbolismos da última década. Magnólia ("Magnolia" 1999) chama a atenção por ser uma história que conta como muitas histórias se perdem, , se repetem, se (re)encontram, se misturam e algumas vezes se unem a outra história fazendo com que as duas ganhem sentido.
Vamos ver se eu consigo desatar o nó dos personagens: Frank T. J. Mackey (Tom Cruise muito bem dirigido e atuando muito bem) é o apresentador de um programa machista que ensina como seduzir para, logo em seguida, dispensar mulheres.
Frank odeia seu pai, Earl Partridge (o sempre bom Jason Robards) que abandonou a primeira mulher, mãe de Mackey e não o reconhece como pai.
Earl Partridge tem câncer no cérebro e nos pulmões e está em estado terminal. É casado com Linda (Jullianne Moore deslumbrante como sempre e em atuação marcante e forte sem ser over) que descobre que ela é a única herdeira da fortuna de Earl. Earl é ainda, produtor de um show de auditório chamado "O Que as Cranças Sabem" que é apresentado por Jimmy Gator (Philip Baker Hall discreto mas muito bom) que também tem câncer mas num estágio menos avançado do que o de Earl.
Jimmy é pai de Claudia Winston Gator, cocainômana que acusa seu pai de estupro e presentador do programa desde sua criação. Jimmy tem em suas mãos um pequeno replay do que já vira: um pequeno gênio que realmente faz a diferença no jogo onde um grupo de três crianças desafia um grupo de três adultos para ver quem responde mais perguntas sobre temas variados. É nesse programa que as vidas do garoto-gênio Stanley Spector (Jeremy Blackman) e do ex-garoto-gênio Donnie Smith (William H. Macy) se misturam. Donnie tinha sido a estrela do show nos anos 60 e depois de uma série de fracassos na vida, se descobre pobre, trabalhando numa loja de departamentos que pertence a dois árabes, uma homossexualidade latente e apaixonado pelo bartender que o serve (uma curiosidade: ao perceber que o bartender usa aparelho nos dentes, Donnie pede um empréstimo aos seus chefes para colocar um aparelho nos dentes e chamar a atenção de uma forma muito peculiar).
Stanley não quer nada daquilo. Não quer ser estrela, não quer fama e, numa nota pessoal, acrescento que ele trocaria toda a sua inteligencia pela atenção do pai Rick Spector (Michael Bowen).
Jim Kurring (John C. Reilly) é um policial solitário que é chamado para atender uma denúncia de som muito alto na casa de Claudia e se apaixona à primeira vista o que parece acontecer com ela também.
O filme me chamou muito a atenção não só pela riqueza e complexidade dos personagens mas também, como já disse ali em cima, pelos simbolismos. O começo do filme mostra uma placa no estúdio onde é produzido o programa em questão onde se lê: Exodus 8:2 (Êxodo 8:2) e é o pulo do gato para que o final não fique parecendo um filme de Buñuel. A passagem da bíblia diz: "Mas se recusares a deixá-lo ir, eis que ferirei com rãs todos os teus termos". Não quero me aprofundar nessa questão pois vai tirar a graça daqueles que querem ver o filme (quem já viu e quiser debater comigo, segue o mail).
Outra parte interessante é o pequeno rapper que canta o assassino investigado por Jim e no final acaba tendo uma senhora participação no desenrolar da história.
Sob aspectos técnicos, o filme é maravilhoso! Desde a trilha sonora belíssima composta por Aimeé Mann até a direção, direção de fotografia, edição enfim... percebe-se que o filme foi feito com muito carinho e aborda questões muito delicadas como culpa, homosexualidade e família.
É um filme denso que vale assistir com um pouco de carinho. Possivelmente vai incomodar e você se sentirá compelido a desligar o vídeo e ir dormir. Recomendo um pouco de paciência e, depois de alguns dias de assistido, uma auto-análise.
Prestem muita atenção na cena em que os personagens do filme, um por vez, cantam um trecho de uma música com a voz gostosa da Aimeé.
Filmaço!!


Mudando de pau pra caralho: POR FAVOR, GENTE. MINHA "CAIXINHAS DE HISTERIA" NÃO SÃO CLASSIFICADOS! EU JURO QUE VISITO TODOS OS BLOGS DE QUEM TEM BLOG E PASSA AQUI PRA VISITAR. NÃO PRECISA DISSO!
O QUE VAI ACABAR ACONTECENDO É QUE EU VOU DAR UM JEITO NISSO SEJA BLOQUEANDO O IP OU, PIOR AINDA, TIRANDO A POSSIBILIDADE DE COMENTAREM ESSES TEXTOS DE DUVIDOSA QUALIDADE LITERÁRIA.
AGRADEÇO A COMPREENSÃO!

Agora mudando de caralho pra cacete: "...Nos demais, todo o mundo sabe: o coração tem moradia certa. Fica bem no meio do peito. Mas comigo a antomia ficou louca, sou todo, todo coração!"

24.7.03

Sei que prometi uma crítica cinematográfica uma vez por semana aqui nesse espaço mas as coisas se tornaram insuportavelmente vazias para mim.
Meu relacionamento de quase qatro anos acabou e acho que para sempre.
Se bem que, sempre é tempo demais. Significa, no mínimo, até o dia que eu morrer. Então vamos mudar isso: "meu relacionamento de quase quatro anos acabou e acho que, por enquanto, não há esperança de volta."
Deixo aqui uma promessa: hoje vou assistir Magnólia pela terceira vez e amanhã deixo uma crítica aqui.
É sim. Já assisti Magnólia duas vezes e a verdade é que ainda não consegui juntar tudo o que o filme pode representar ou não. Pode ser que eu esteja procurando cabelo em ovo mas eu acho que tem uma coisa muito importante por trás da chuva de sapos.

Aproveito o ensejo para convidá-los a ler a revelação que O Mago fez lá.
Dando uma de aproveitador quero agradecer os elogios tão carinhosos que tenho recebido nas caixinhas de comentários que o Paulo Polzonoff chama de "caixinha de histeria" com toda a propriedade. Acho muito engraçado.
Este que vos escreve essas parcas linhas, sou eu. Mesmo.

22.7.03

Não vale amar
Se não há mais prazer
É melhor esquecer
Não vale a pena enganar
Nosso amor sem esperança
Já deixou de ser criança
Felicidade se cansa
É necessário mudar
Quando o amor
Já não é mais verdade
Passa a ser falsidade
E só desgostos trará

Mentes sem motivo aparente
Mostrar um sorriso indiferente
Não existe mais alegria
De fazer poesia, de cantar por aí
E eu já não escondo o cansaço
De ser presa fácil em teus braços
Foge do meu ser a ilusão de viver
Nas garras do teu coração
Como é triste amar em vão

E não vale amar se não há
Mais prazer.

21.7.03

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

18.7.03

Seguinte: economizem seus tão suados e preciosos dinheiros e não joguem na Mega-Sena nem na Lotomania! Desse fim-de-semana não passa: vou ficar milionário e acabar com todos os problemas do mundo me tornando um cidadão cosmopolita-modelo!! Bem cheio dos títulos assim!
Revirando umas músicas (nem tão) antigas assim, me deparei com umas gravações do Kid Abelha em começo de carreira. Com isso descobri que a Paula Toller não sabia cantar naquela época.
Hoje estava escutando no rádio uma nova gravação nesse "desplugado" que eles gravaram para a MTV. Descobri que de lá para cá ela não se dedicou a aprender a cantar, não se esforçou e acha que canta!
Este será mais um fim-de-semana dedicado à sétima arte. Devo assistir mais uma vez aos outros filmes da segunda trilogia do Kieslowki sobre os ideais da bandeira francesa.
Comecei no último fim-de-semana com "A Liberdade é Azul" e quero ver se termino de ver todos nesse agora.

Breve: críticas cinematográficas uma vez por semana!

16.7.03

Uma pequena homenagem a uma amiga que eu gosto muito e que está vendo suas meninas abrirem as asas e ganhando o mundo.
Deve ser uma sensação estranha porque, ao fim e ao cabo, a gente cria filho pro mundo mas quando eles estão indo, a gente não quer que eles se vão!
Força Mariazinha!!!!

"Olha as minhas meninas
As minhas meninas
Pra onde é que elas vão
Se já saem sozinhas
As notas da minha canção
Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim
Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão

As meninas são minhas
Só minhas na minha ilusão
Na canção cristalina
Da mina da imaginação
Pode o tempo
Marcar seus caminhos
Nas faces
Com as linhas
Das noites de não
E a solidão
Maltratar as meninas
As minhas não

As meninas são minhas
Só minhas
As minhas meninas
Do meu coração"

(Chico Buarque)

11.7.03

DESCOBRI A MELHOR LOCADORA DE DVD DO MUNDO!!! PARADISE VÍDEO QUE FICA NA FIGUEIREDO MAGALHÃES, 581 C!
TEM TUDO QUANTO É FILME LÁ!
Passada a empolgação, esse finde vou assistir: MASH, Morangos Silvestres, A Liberdade é Azul e Sonhos (sempre ele). Estarei muito bem acompanhado de uma garrafa de vodka e uns poucos cigarrinhos!!

10.7.03

Descobri que paciência é um exercí­cio. Deve-se exercitar a sua paciência a cada segundo sem se violentar, é claro.
Descobri também que a vida é um rio... tortuoso... algumas vezes calmo e muitas vezes agitado. Que o vento leva o barco mas quem escolhe o rumo é o timoneiro. E que meu barco não navega...
Estou descobrindo que deve ter alguma coisa muito errada comigo... É sim. Explico: eu agora tenho três empregos: um fixo e dois que eu faço "freela". No fixo eu já desisti de apresentar idéias, debater políticas da empresa e afins. É muito cansativo quando se está disposto a arriscar, batalhar e as outras pessoas partem do princípio do "quem não faz, não erra".
No outro, um dos "freela", eu comecei empolgado mas já me decepcionei porque o foco que essa outra empresa quer dar é muito formal. Não gosto de formalidades. Me sinto preso, amarrado. Achei que eu trabalharia com gente dita normal mas não. Eles cresceram o olho e querem saber somente de grana, grana, grana!!
Então voltando, se das tês empresas em que trabalho discordo da polí­tica de duas delas, definitivamente tem alguma coisa errada comigo!
É a velha história: se das, digamos, 100 pessoas que você conhece 3 te acham chato, tem alguma coisa errada com essas três pessoas. Mas se 97 pessoas te acham chato, tem alguma coisa errada contigo.
Descobri também que, para variar sobre o tema, estou duro feito um côco. Por conta disso, eu que ia sair para dançar, já não vou mais. O que fazer? Simples! Vou comprar uma garrafa de vodka (no cartão de crédito, é claro), apagar as luzes da casa, ligar o rádio (tem um programa que só toca "disco dancing" todos os sábados por volta de 22:00h) no máximo, dançar até cair e depois mirar uma reta até a cama e já dormir no caminho até ela!

9.7.03

Descobri que Sonhos de Akira Kurosawa (Akira Kurasawa's Dreams) é um filme que preciso ter em casa. Gosto de rever algumas coisas no filme e depender de locadora que tenha não é legal. E sempre que eu quero rever é num rompante. Bate uma vontade louca de assistir o filme e como ele não faz parte da minha coleção, fico eu triste esperando que a TVA reprise a qualquer momento. Não... na verdade eu sempre espero que o diretor de programação da TVA leia meus pensamentos e decida alterar a grade de programação imediatamente para eu poder assistir o filme.
O filme narra oito contos. Oito questionamentos intimistas sobre morte, velhice e futuro.
Mestre que é, Kurosawa nos faz passear por um mundo de pura poesia em movimento recheada de cores, planos longos, distantes e abertos (como manda um dos dogmas do cinema) e se dá ao luxo de usar alguns poucos efeitos visuais holliwoodianos para temperar. Ao longo do passeio somos apresentados a um verdadeiro banquete de imagens e cores retratando folclores orientais como em "Sol Atrás da Chuva" onde um garotinho, apesar de proibido por sua mãe, entra na floresta depois da chuva e se depara com criaturas cantando e tocando e fica maravilhado com a singular coreografia. "O Pomar de Pêssegos" (um dos meus preferidos) conta a história de criaturas que acusam um garoto de estar matando os pessegueiros e o garoto se defende dizendo que sua famí­lia era responsável apesar de seus protestos.
Talvez o mais recheado dessas cores tão presentes no cinema oriental seja "O Corvo" onde um estudante de pintura entra em um quadro de Van Gogh (interpretado por Martin Scorcese). Motivo mais do que óbvio para transformar um filme numa verdadeira aquarela.
Outro ponto forte do filme é a quase ausência de diálogos. Confesso que se não os houvesse (como na trilogia de Saura "Amor Bruxo", "Bodas de Sangue" E "Carmen"), ficaria satisfeito da mesma forma. A beleza e grandiosidade das cenas enche os olhos e confirma o que dizem a respeito da comparação entre imagen e palavras.
Vale assistir e mais de uma vez!!

8.7.03

Descobri que eu DEFINITIVAMENTE preciso sair e balançar o esqueleto!!! E rápido!!!
Descobri que eu me divirto muito, mas muito mesmo quandou ouço os discos da Arca de Noé!
Mas tanto, tanto que transcrevo uma musiquinha do segundo disco. Acordei cantando a música e o pior é que eu morro de rir a cada vez que eu canto! Como se eu fosse criança de novo. Mas acho que qualquer um viraria criança mais uma vez ao escutar...

O AR (O VENTO)

"Estou vivo, mas não tenho corpo
Por isso é que eu não tenho forma
Peso eu também não tenho
Não tenho cor

Quando sou fraco
Me chamo brisa
E se assovio
Isso é comum
Quando sou forte
Me chamo vento
Quando sou cheiro
Me chamo pum!"

(E. Bacalov/Vinicius de Moraes/Toquinho)

7.7.03

Descobri que eu preciso beber pelo menos um cerveja e fumar uns dois cigarros quando chego em casa depois de um dia de trabalho!
A cerveja dilui minhas frustrações e desilusões e cada tragada exalada do cigarro me dá a sensação de que todos os maus pensamentos estão indo embora com a fumaça.
Depois janto, assisto um pouco de televisão para imbecilizar, uma boa noite de sono e estou pronto para encarar essas gentes doidas dessa cidade maluca!
Além de cultivar essas duas válvulas de escape descobri que escrever aqui também me tira da realidade. Já teve um escritoe que disse que da prática vem uma boa escrita. Tomara. Vou insistir. Quem sabe um dia desses não acabo escrevendo razoavelmente bem?
Descobri também que preciso conversar mais com uma amiga genial de mamãe! No sábado reafirmei como é maravilhoso conversar sobre cinema com Ana Maria. Não só sobre cinema, é claro. Mas principalmente sobre cinema porque ela é uma daquelas pessoas que eu queria ser: vai ver tuuuudo quanto é filme no cinema sem o menor preconceito. Eu ainda fico meio ressabiado e se não tiver certeza, espero sair em vídeo.

2.7.03

Descobri que as coisas nem sempre são certas como queremos e que trilhos descarrilham com muito mais frequência do que imaginamos. E que não adianta darmos murros em pontas de facas, porque as feridas nos dedos doem, porém muito menos do que a impaciência de não poder resolver o qeu se quer.

Descobri que eu preciso de dinheiros muitos para comprar um carro.

Descobri que eu sou uma sonâmbula que acorda com uma caneca de nescau ao lado e não se lembra que bebeu....
Descobri que Encontrando Forrester (Finding Forrester. Direção: Gus Van Sant. Com: Sean Connery, F. Murray Abraham, Anna Paquin, Busta Rhymes, April Grace, Michael Pitt e Michael Nouri) é melhor da segunda vez que se assiste.
Descobri que muitos sonhos não são alcançados pelo medo do fracasso ou, pior ainda, pelo medo do sucesso. Descobri que o medo paralisa, petrifica, congela. E que é por isso que eu tenho estado parado, nesse estado de criogenia por todo esse tempo. A primeira descoberta publicada aqui vem me ajudando como nunca a romper a inércia causada por muitas frustrações e abandonos de sonhos e ideais.
Descobri que os anos e o contato com pessoas "erradas" me embruteceram a alma e petrificaram o coração. Criaram um mal-humor eterno, um rancor cinza e deflagaram reações violentas. Hoje digo, com o peito estufado, que todos os alarmas devem ser alertados pois homem que eu deveria ter sido está surgindo das cinzas graças às pessoas "certas".
Coloco certos e errados entre aspas pois creio que essa distinção não existe. As pessoas são, sempre serão certas e responsáveis direta ou indiretamente pelo que sou e pelo que virei a ser. Os momentos é que não são propícios ou são equivocados.
Pessoas recentes, pessoas antigas, pessoas que sempre estiveram ali, pessoas que aparecem de vez em quando mas que são sempre bem-vindas...
Descobri que se não fosse por elas, esse processo de (re) descobrimento não seria possível.

1.7.03

Descobri que eu queria ter nas mãos o poder de fazer feliz todos que me cercam.
E descobri que não tenho tal poder e que essa descoberta deixou um vazio enorme no peito.
"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio..."
Descobri que os juros do meu cheque especial estão pela hora da morte enquanto as prestadoras de serviço (que por meio de liminar não podem incluir o nome de ninguém em SERASA's SPC's e afins) cobram por volta de 2% de juros. Adivinhem só? Isso mesmo! Esse mês vou dar um calote generalizado nas contas de telefone e afins pra ver se eu consigo não entrar no especial.
Descobri também que dos partamentos que tenho visto esses dias, o que mais gostei fica na esquina da Lopes Quintas com Corcovado e que nessa esquina passa um ônibus em intervalos regulares. Com essa descoberta descobri que vou ter que amarrar os livros, os disco e as louças porque a impressão que dá é que o dito ônibus passa dentro do apartamento. Eu e os gatos vamos precisar de litros de coquetel de Passiflorine com Maracujina.

30.6.03

Descobri que adoro procurar apartamento!!!
Mesmo! É sério!
Tudo começa com o trabalho de pesquisa feito no jornal. A análise da quantidade de quartos, metragem, planta baixa, luminosidade etc.
Depois vem a fase da pesquisa no campo. O andar pelo bairro escolhido analisando todas as vantagens que o bairro em questão oferece. Proximidade de comércio, tranquilidade, silêncio, possibilidade de se comprar cigarros ou pilhas para os controles remotos às três da manhã em noites de insônia...
A seguir vem a fase de análise do apartamento em si.
Me fantasio de arquiteto-engenheiro-bombeiro hidáulico e passeio pelo apartamento vazio percebendo todos o aspectos físico dos ecos, puxo descargas, acendo/apago lâmpadas, piso fortes nos tacos para constatar se estão bem presos, abro/fecho janelas e termino com uma piadinha sem graça mas que não amarra nem desata uma possível negociação futura:
- Bom Doutor, o apartamento é bom mas o senhor sabe, né? Quem decide é a patroa!
Os dois damos risadinhas cúmplices e vou embora ainda vestindo meu cinturão de ferramentas invisível.

27.6.03

Descobri que eu sou uma pessoa importante para gentes legais assim.

Eu sou muito mais sebosinha agora.
Na verdade descobri que sou insuportável.
Descobri que o gerente da minha conta devolveu um cheque meu de 40 dinehiros!
Ai, meu deus! Vai começar tudo de novo!!
Descobri que quando um amigo te pede alguma coisa, é porque precisa. E se esse amigo precisa e te pediu é porque a coisa é séria. Então vai lá e faz porquê senão, a o trem descarrilha, vem descendo a ladeira descontroladamente e você acaba se sentindo o último dos seres humanos sobre a terra carregando o peso do planeta sobre seus ombros.
Na verdade, na verdade amigo é pra isso: pra dar e oferecer conforto nas horas em que a mãe da necessidade sai em busca de emprego.

26.6.03

Lambança

Descobri que fiz lambança no template e por isso os comentários não estavam funcionando.
Mas parece que agora vai!
Descobrir que fumar uns dois cigarrinhos por dia não faz mal ao pulmão e faz bem à cabeça!
Descobri que preciso de muito pouco para viver bem e que nesse muito pouco está incluído: um fogão pra fazer umas comidinhas (saco vazio não pára em pé), muitos livros, muitos discos, uma geladeira para gelar as cervejas e minha mulher.
Descobri que por mais que mamãe se preocupe comigo, tenho andado numa serenidade enorme porque finalmente sei o que eu quero da minha vida!

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