5.4.07

Escrever é Negar Sentimentos

Uma vez um poeta disse: "escrever é negar sentimentos".

Chegou em casa naquela noite se sentindo diferente, estranho, esquisito. Tirou o paletó como fazia sempre, fumou um cigarro como sempre, mas as coisas lhe pareciam diferentes, estranhas, esquisitas.
Não tinha fome, não tinha sede, nada. Andava nu pela casa o que lhe pareceu ainda mais diferente, estranho, esquisito. Não era hábito seu. Colocou uma música, mas o som lhe parecia uma cacofonia e resolveu tirar. Nu e no silêncio da casa, caminhou até o quarto, sentou na beirada da cama com a cabeça apoiada nas mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos e fitava o nada. Num repente começou a rezar. Do jeito dele, claro. Tinha estudado em colégio de padre quando pequeno, mas não sabia Pai-Nosso ou Ave-Maria, então naquela estranheza, naquela diferença, naquela esquisitice, conversou com Deus.
Dizia coisas desconexas, estúpidas, absurdas e ao mesmo tempo coerentes e inteligentes. Sabia que Deus entendia. Falou durante horas e horas e horas e horas sem fim. Em dado momento, achou que perderia a voz e passou a falar para dentro, murmurando. Sabia que Deus o escutava. Tinha certeza. Afinal, nunca tinha falado antes com Ele e seria uma grande sacanagem se o todo-poderoso não o escutasse agora.
Não pediu nada. Nem para ele, nem para ninguém. Só falou.
Quando achou que tinha terminado, sentou-se ao computador e escreveu e escreveu e escreveu até que não sentia mais a ponta dos dedos. Até que não conseguia mais manter o corpo na cadeira. Até que foi tomado de todo o cansaço do mundo. Se atirou da cadeira para a cama e dormiu.
Em um sonho, ouviu uma frase. Como se alguém muito, muito longe gritasse, conseguiu distinguir algumas palavras.
Acordou aos prantos. Lá estava ele. Mais uma vez, negando seus sentimentos...

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