14.8.08

Rélou, pípou!

Triste como um tango, seus passos ecoavam na rua deserta e ele cambaleava procurando um último bar, uma última alma. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas ele já nem sentia mais entorpecido que estava pelas agruras da vida que sempre insistia em esbarrar seus ombros cansados.

As últimas luzes da noite iam se apagando. Uma após a outra como se um teatro se fechasse após a saída dos últimos espectadores. Com as mãos enfiadas nos bolsos do longo sobretudo, parou sob um poste e, olhando a fria luz que desenhava um perfeito círculo sobre si, recostou-se nesse poste e seus joelho cederam sob o peso do vinho.

Ali, sentado, admirava os belos círculos concêntricos da fria luz de inverno. Já não perseguia mais seus fantasmas. Na verdade, seus fantasmas o fitavam de longe, com pena. Já não habitavam seu armário, já não o assombravam. Tinham finalmente cedido à tentação de vê-lo sucumbir.

Ali, caído, sentia-se ser observado e percebia que comentavam a seu respeito, mas não tinha mais forças para contestar. Foi ali que percebeu. Levantou-se sem esforço. Caminhava levemente. Virou-se para ver o lugar onde antes estivera sentado, inerte e sorriu. Sentia-se forte de novo. Cumprimentou seus fantasmas que não acreditavam no que viam.

Mais uma vez, lá ia ele, os ombros aprumados, o olhar reto, o passo firme. Ali perto, embarcou no ônibus que passava na ladeira que o levava para casa.

Descendo a ladeira, pôde ver o horizonte que clareava e ali, soube que nada tinha acabado. Estava apensa começando...

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