22.8.08

Da falta que os amigos fazem

E se um dia tudo mudasse? E se um dia voltasse a ter o assento como companhia e testemunha do que escrevia. E se um dia voltasse a ter o sentimento à flor da pele? Como seriam as coisas? Seria ele como é hoje? Seria uma pessoa melhor? Pior? Igual?
Havia muito tempo não se questionava essas coisas até que um dia, o céu se fez azul novamente. As cores tinham mais brilho, eram mais intensas, tinha voltado para seus amigos.
Tinha ficado mais velho, sim. Se sentia mais velho, seu cabelo ficara mais ralo, mais cinza. Em outros momentos se sentia só, em outros se perguntava qual o sentido disso tudo. Da vida, do ser, do estar, do ir, do vir.
Um belo dia, uma grande amiga disse que sentia saudade da pessoa que ele fora antes de se tornar aquela pessoa cinza e mecanizada.
- Onde foi parar aquele Marcito que eu conheci? Aquele que escrevia com tanta leveza, que era tão otimista?
Foi naquele momento que ele se deu conta de que ele sentia falta de si mesmo.

14.8.08

Rélou, pípou!

Triste como um tango, seus passos ecoavam na rua deserta e ele cambaleava procurando um último bar, uma última alma. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas ele já nem sentia mais entorpecido que estava pelas agruras da vida que sempre insistia em esbarrar seus ombros cansados.

As últimas luzes da noite iam se apagando. Uma após a outra como se um teatro se fechasse após a saída dos últimos espectadores. Com as mãos enfiadas nos bolsos do longo sobretudo, parou sob um poste e, olhando a fria luz que desenhava um perfeito círculo sobre si, recostou-se nesse poste e seus joelho cederam sob o peso do vinho.

Ali, sentado, admirava os belos círculos concêntricos da fria luz de inverno. Já não perseguia mais seus fantasmas. Na verdade, seus fantasmas o fitavam de longe, com pena. Já não habitavam seu armário, já não o assombravam. Tinham finalmente cedido à tentação de vê-lo sucumbir.

Ali, caído, sentia-se ser observado e percebia que comentavam a seu respeito, mas não tinha mais forças para contestar. Foi ali que percebeu. Levantou-se sem esforço. Caminhava levemente. Virou-se para ver o lugar onde antes estivera sentado, inerte e sorriu. Sentia-se forte de novo. Cumprimentou seus fantasmas que não acreditavam no que viam.

Mais uma vez, lá ia ele, os ombros aprumados, o olhar reto, o passo firme. Ali perto, embarcou no ônibus que passava na ladeira que o levava para casa.

Descendo a ladeira, pôde ver o horizonte que clareava e ali, soube que nada tinha acabado. Estava apensa começando...

21.7.08

Balada Para Un Loco

Las tardecitas de Buenos Aires tiene ese que se yo, viste?
Salgo de casa por Arenales, lo de siempre en la calle y en mi,
cuando de repente, detras de ese arbol, se aparece el,
mezcla rara de penultimo linyera y de primer polizonte
en el viaje a Venus. Medio melon en la cabeza,
las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies
y una banderita de taxi libre levantada en cada mano...
Parece que solo yo lo veo, porque el pasa entre la gente
y los maniquies le guiñan, los semaforos le dan tres luces celestes
y las naranjas del frutero de la esquina le tiran azahares,
y asi medio bailando, y medio volando,
se saca el melon, me saluda, me regala una banderita
y me dice:

Ya se que estoy piantao, piantao, piantao,
no ves que va la luna rodando por Callao
y un corso de astronautas y niños con un vals
me baila alrededor...
Baila, veni, vola...

Ya se que estoy piantao, piantao, piantao,
yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrion;
y a vos te vi tan triste; veni, vola, senti el loco berretin
que tengo para vos.

Loco, loco, loco, cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sabana vendre con un poema
y un trombon a desvelarte el corazón.

Loco, loco, loco, como un acrobata demente saltare
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloqueci tu corazón de libertad, ya vas a ver.

Y asi el loco me convida a andar
en su ilusión super-sport,
y vamos a correr por las cornisas
con una golondrina en el motor.
De Vieytes nos aplauden. Viva, viva...
los locos que inventaron el amor;
y un angel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda
y el loco, loco mio, que se yo,
provoca campanarios con su risa
y al fin, me mira y canta a media voz:

Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
trepate a esta ternura de locos que hay en mi,
ponete esta peluca de alondras y vola, vola conmigo ya:
veni, vola, veni...

Quereme asi piantao, piantao, piantao,
abrite los amores que vamos a intentar la magica locura
total de revivir, veni, vola, veni, tra...lala...lara...


Procurem Amelita Baltar nos seus programas de download. Ela é esposa do Astor Piazzola.
Essa é umas das músicas mais bonitas do mundo! Caso não encontrem, me passa um mail que a gente resolve a falha grave de você nunca ter escutado essa música! Afinal, somos todos loucos!

30.4.08

Dois Dias em Abril

Cabo-Frio, 18/04/2008

Eu não olhava para ele. Ou tentava não olhar, mas sob os óculos escuros, uma espiada sempre me escapava. Pior era vê-lo ali escrevendo, lendo, fumando um cigarro ou bebendo uma cerveja. Vê-lo ali e não poder falar com ele.
Não posso dizer que me incomoda muito o fato de ele nem me dizer "bom dia!" como ele dizia antes. Afinal, eu também não não me dirigia a ele. Só com o olhar eu tentava me comunicar, quando tinha certeza de que ninguém mais estava vendo. Será que ele percebe? Aposto que sim! Principalmente quando nossos olhares se encontram por alguns mínimos segundos. Agora sei que ele também me percebe.
Beleza não é o forte dele. Não à primeira vista. Muito mais charmoso, ele sabe fazer uso disso e acaba se tornando mais bonito, seu olhar fica mais penetrante, ele fica mais confiante. Os olhos de uma cor que não se pode prever. Quase sempre verdes, mas muito azuis de outras. Me olhando, me descobrindo, me revelando segredos. Fico sem graça e passo a mão nos cabelos tentando desviar meu olhar. Acabo olhando aqueles olhos infinitos de novo e fico tímida como uma adolescente.
Naquela sexta-feira regada a sol, cerveja e boa conversa, já no fim do dia quando ele sabia que eu já me entregara, ele simplesmente se levantou, deu dois passos na minha direção, segurou meu queixo com a leveza e a firmeza que eu esperava e me beijou sem pressa, degustando. Um beijo doce, profundo.
Beijo molhado, nu, suado e com Pedrinha de Aruanda, ê! Me sentia protegida e olhando em seus olhos, contei as coisas da minha vida, meus impedimentos, meus medos. Ele compreendeu, disse que estava tudo bem ao pé do meu ouvido. Arrepio. Caminhada até minha casa, mais daquele beijo.
O dia seguinte ia correndo e eu queria ficar mais perto, beijar, mas não posso! A noite chegou. Passeio na beira do mar, barzinho, Divas in Las Vegas no DVD, minhas mãos nas mãos dele, sopa no restaurante japonês, dança desajeitada ao som de uma música linda e desconhecida, risos, cumplicidade. Promessas.
Não cumpri com o nosso combinado e espero que ele entenda. Não vou voltar pra ele. Melhor partir para onde vim. Marcamos nossos corpos e me vou. Até...

19.3.08

Diário da Obra - Dia 2




Se um apartamento é medido pela quantidade de paredes que ele tem, a cada dia que passa eu tenho menos apartamento...
Detalhe: o cara foi tirar a privada do banheirinho (que vai virar um banheiro social) e eu constatei que todas as baratas do Rio de Janeiro moram ali. Me peguei pensando no comprimento total do cano e quantas baratas poderiam caber ali. Tomei um dormonid e dormi no meio das marretadas. Triste vida.

18.3.08

Diaário de uma Obra - Dia 1






Começou o inferno.
Sete da manhã os caras chegaram e se puseram a quebrar tudo!
No final do dia eu tinha menos uma parede e meia e uma vontade de pegar a Tita e me mudar pra casa de mamãe.

9.3.08

Destiny



I lie awake
I’ve gone to ground
I’m watching porn
In my hotel dressing gown
Now I dream of you
But I still believe
There’s only enough for one in this
Lonely hotel suite

The journey’s long
And it feels so bad
I’m thinking back to the last day we had.
Old moon fades into the new
Soon I know I’ll be back with you
I’m nearly with you
I’m nearly with you

When I’m weak I draw strength from you
And when you’re lost I know how to change your mood
And when I’m down you breathe life over me
Even though we’re miles apart we are each other’s destiny

On a clear day
I’ll fly home to you
I’m bending time getting back to you
Old moon fades into the new
Soon I know I’ll be back with you
I’m nearly with you
I’m nearly with you

When I’m weak I draw strength from you
And when you’re lost I know how to change your mood
And when I’m down you breathe life over me
Even though we’re miles apart we are each other’s destiny

When I’m weak I draw strength from you
And when you’re lost I know how to change your mood
And when I’m down you breathe life over me
Even though we’re miles apart we are each other’s destiny

I’ll fly, I’ll fly home
I’ll fly home and I’ll fly home

21.2.08

Das coisas estranhas que trazem as pessoas aqui (e as devidas considerações cretinas)

Entraram no Google procurando alguma coisa estranha e acabaram aqui...

"Sou todo coração" - Cara, eu trabalho numa clínica. Quem sabem a gente não arruma uns transplantes baratinhos...?

"Descobrir que ainda te amo" - Pai Marcito de Ogum trás a pessoa amada em um dia e meio!

"Descobri que..." - Descobri o descobri

"Anjos saen en fotos" - Claro! E a ala psiquiátrica fica logo ali!

"achei que não o amava mais, as descobri que o amo" - De novo?

"ABREVIAÇAO DE PRESIDENTE" - FDP

"filme tem cancer e se apaixona que também tem cancer" - Como assim? Filme tem câncer? Filme se apaixona? Ainda mais por outro filme que TAMBÉM TE CÂNCER? ZÉ! PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!

"tampou com o dedo" - E explodiu quando peidou

10.2.08

Música da semana



Spent my days with a woman unkind,
Smoked my stuff and drank all my wine.
Made up my mind to make a new start,
Going To California with an aching in my heart.
Someone told me there's a girl out there
With love in her eyes and flowers in her hair.
Took my chances on a big jet plane,
Never let them tell you that they'all are the same.
The sea was red and the sky was grey,
I wondered how tomorrow could ever follow today.
The mountains and the canyons started to tremble and shake
As the children of the sun began to awake.

Seems that the wrath of the Gods
Got a punch on the nose and it started to flow;
I think I might be sinking.
Throw me a line if I reach it in time
I'll meet you up there where the path
Runs straight and high.

To find a queen without a king,
They say she plays guitar and cries and sings... la la la la
Ride a white mare in the footsteps of dawn
Tryin' to find a woman who's never, never, never been born.
Standing on a hill in my mountain of dreams,
Telling myself it's not as hard, hard, hard as it seems

30.1.08

Carnaval na Lapa

Pleno carnaval. Estava eu parado do lado de fora do boteco, assistindo ao hipnotizante rebolado de uma morena estonteante. Assisto. Assisto. Assisto. Eis que sinto uma pesada mão em meu ombro. Naquele momento o mundo girou com violência. Ou isso ou fui girado até dar de encontro um afro-brasileiro do tamanho de... De... Nem sei. Me faltam adjetivos! O cara, com a cara a menos de um palmo da minha, falava um monte de coisas, mas eu perdi completamente a concentração ao ver o movimento dos lábios do negão. Não eram lábios, eram beiços! Beiças! No feminino mesmo! Ok. Sejamos sinceros: ninguém pode se concentrar no que alguém diz quando ameaçadores beiços cheirando a cachaça estão tão perto da sua cara.
Num pentelhésimo de lucidez, percebi que o camarada estava ficando muito puto nas calças e que minha integridade física corria sério risco. Consegui entender o que ele dizia:
- Que papo é esse de ficar olhando pra minha mulher, rapá?
Usando de toda a malandragem aprendida em 33 anos de vida no Rio de janeiro, disparei:
- Ô, rapaz... Mil perdões. Eu não sabia que ela era sua mulher. Peloamordedeus perdoe minha ignorância e completa falta de discrição.
- É o que?
- Eu disse que não queria passar por um completo palhaço, bêbado que fica olhando pra mulher dos outros. Foi mal mesmo, bicho! Pra te provar que eu não estava de má fé, má vontade ou qualquer outra coisa que seja má, deixa eu te pagar uma gelada. CHICO! Traz uma cerveja cu-de-foca pro nosso caríssimo amigo aqui.
- Não sô teu amigo, palhaço!
- CHICO! Traz uma cerveja gelada como o grande caralho de asas pro nosso nobre colega!
- Também não sou seu colega, otário!
- CHICO! PELA FÉ NO SANTO SEPÚLCRO, TRAZ UMA CERVEJA PRO NOSSO ILUSTRE DESCONHECIDO!
Pouco depois, copos cheios e ânimos apaziguados, com a desculpa de tirar água do joelho, passei no balcão, paguei minha conta e saí sorrateiramente. Seguia o caminho pra casa muito concentrado até que fui desconcentrado pelo rebolar de uma loirinha linda com uma saia microscópica...

29.1.08

Fui!

- E aí, menina?
- Oi! Como vc tá?
- Jóia! E vc? Beleza?
- De boa!
- Me separei... Acho que pra valer... E carnaval? Vai viajar?
- Nem. Vou ficar por aqui e piranhar. Tô na pista pra negócio! Hahahahaha!
- É... Acho que é a boa...
- Vamos cair no Carmelitas!
- Onde é?
- Aqui em Santa!
- Vem me buscar? Hehehe
- Nem se eu tivesse carro
- Quando eu comprar meu carrinho, vou te visitar
- Precisa de carro? Vivi minha vida inteira sem e tô de boa. Enquanto existir táxi e ônibus...
- Quando é que vc vem visitar a gente?
- Nem sei... Quando é que vcs vem me visitar?
- Pô, vc é que tem que vir aqui
- ..........
- .........
- Quer saber de uma? Eu passei a porra da minha vida inteira indo visitar, sacou? Eu tô bem de saco cheio de ficar visitando gente que não tem um puto de um interesse em me visitar. Cansei dessa merda! Porra! To aqui morando sozinho e sabe quando foi que alguém ligou ou escreveu perguntando se eu tô legal ou se tô precisando de alguma coisa nem que seja uma palavra de conforto ou cinco pratas? Nunca! Vou te mandar a real: eu baixei ao zero minhas expectativas com relação a vcs! Entendeu? Funciona assim: se eu não espero nada, não me decepciono! Então eu não espero porra nenhuma de vcs! Nem uma palavra de conforto, nem cinco pratas, nem nada! E quer saber mais? Vivi mais de metade da minha vida sem picas de vcs! Te juro que morro antes de precisar de alguma coisa! “Quando eu comprar meu carrinho”? Quero que se fodam vc, seu carro e quem mais estiver envolvido! Junta todo mundo em frente ao computador que eu quero falar uma vez só: vão se foder! Me esqueçam! Pronto! Falei!

23.1.08

Homenagem

Mãe de Deus das Candeias

Ó Mãe de Deus das candeias
Aceita essa romaria
Que os romeiros são de longe
Não podem vir todo dia
A vossa água é tão santa
Que a nossa vida clareia
E lava todas as culpas,
Ó Mãe de deus das candeias
Mãe de deus das candeias
Senhora de tanta luz
Quem vai doente, vem são
Quem vai cego, vem com luz
És Maria, nossa alegria
Estrela do mar que nos alumia
Estrela do mar, luz guia
Estrela do mar, luzia
Estrela do mar, luz guia
Estrela do mar, luzia

Todas as vezes que eu escuto essa música, me lembro da minha maínha! Coisa assim de saudade de boa que dá. Coisa de filho que ama muito minha maínha!

16.1.08

A little poetry

Her Praise

She is foremost of those that I would hear praised.
I have gone about the house, gone up and down
As a man does who has published a new book,
Or a young girl dressed out in her new gown,
And though I have turned the talk by hook or crook
Until her praise should be the uppermost theme,
A woman spoke of some new tale she had read,
A man confusedly in a half dream
As though some other name ran in his head.
She is foremost of those that I would hear praised.
I will talk no more of books or the long war
But walk by the dry thorn until I have found
Some beggar sheltering from the wind, and there
Manage the talk until her name come round.
If there be rags enough he will know her name
And be well pleased remembering it, for in the old days,
Though she had young men's praise and old men's blame,
Among the poor both old and young gave her praise.

William Butler Yeats

8.1.08

Dia Branco

Branca era a cor daquela manhã. O sol era branco. Despiu-se dos brancos lençóis e, sentado na beirada da cama, calçou os brancos chinelos. Arrastando-se até o banheiro de brancos azulejos, contemplava as brancas paredes enquanto a branca gata roçava suas pernas tão, tão brancas. Olhou-se no espelho e deparou-se com um homem branco cuja barba, assim como o cabelo, já ficava branca.
Abriu a torneira e a branca água caía quente sobre o branco corpo do branco homem que colocou um pouco do branco shampoo na mão em concha e espalhou sobre a branca cabeça. Esfregou o branco sabonete sobre o corpo e ficou assistindo a branca espuma escoar pelo branco ralo.
Depois de enxugar-se na branca toalha, foi até o quarto onde a branca camisa pendurada no branco cabide o aguardava. Como sempre, vestiu a branca camisa, calçou as negras meias e vestiu a desbotada calça jeans.
Já metade fora de casa, uma rajada de vento trouxe uma fita toda colorida que caiu no meio da sala. A branca gata se aproximava lentamente, com medo, receio. O que seria aquilo? Vencendo o medo, ela, a branca gata, foi chegando perto da colorida fita e cheirando a fita, a gata se coloriu.
E a colorida gata olhou para o branco homem e miou olhando do branco homem para a branca janela. Não se sabe por que, mas o branco homem entendeu a mensagem e correu na direção da janela. E a abriu.
Naquele momento, os brancos móveis tomaram cor de madeira, a colcha que ficava sobre o sofá se tornou colorida com a cor da Índia, as plantas se tornaram verdes como nunca se havia visto, a gata se tornara colorida em tons de negro, branco e caramelo. Os verdes olhos dela fitaram o ainda branco homem e ele correu até o escritório abrindo as janelas num rompante. Aquela luz multicolorida entrava em casa deflorando a brancura, estuprando o cinza, afastando o ordinário.
O branco homem correu até o quarto para abrir as janelas, mas antes disso arrancou a roupa branca, negra e desbotada. Nu, foi até a janela e abriu ali as portas para todas as cores. Viu seu branco corpo se tornar bronzeado e, com os braços abertos, respirou fundo. Sentiu as cores e a vida invadindo seu corpo e sua alma. A colorida gata deitou-se do seu lado e pediu carinho. Com os olhos bem abertos o colorido homem via e escutava os pássaros logo ali do lado de fora da sua janela.
Quando o telefone tocou, ele não estranhou e caminhou até a sala. O telefone que antes fora negro, brilhava em tons dourados. A voz tão familiar e tranqüila do outro lado disse: Marcito, seu cretino!! Vamos pra Maromba?

6.1.08

A Espera

Fui trabalhar no dia seguinte com a sensação de que tinha feito tudo, tudo certinho. Tinha te tocado do jeito certo, tinha de beijado como você gosta, tinha dito palavras doces. O dia se arrastava e eu esperava que você me ligasse de volta ou respondesse minha mensagem, mas a espera foi em vão.
Não sabia muito bem o que esperar de um outro dia. Não sei se realmente queria que você aparecesse. Não sei se tenho andado muito solitário e vulnerável. Na verdade, esperava que você fosse transparente como fui exigido. Talvez eu esperasse que alguma coisa fosse dita nem que fosse “sai da minha vida”.
Deitado na minha cama, me dividia entre olhar para a televisão e assistir a chuva que caia lá fora. Minha cabeça se perdia em meio a pensamentos diversos de ontem, hoje e amanhã. Abracei um dos mil travesseiros que me rodeavam e um pensamento me atingiu como uma flecha fazendo com que os outros voassem: tenho estado sozinho. Mas não há tristeza em minha solidão. Muito pelo contrário.
Sentado na beirada da cama, meus pés tocam o chão frio. Acendo um cigarro e espero.

Arquivo do blog

Free counter and web stats