4.8.03

Tinha entrado na primeira estação do metro e estranho o quão vazia estava. Olhou ao redor e viu umas poucas pessoas com ares um tanto ou quanto ranzinza mas se conformou que aquela era a expressão “normal” que se via nos rostos de quem transitava pelas ruas da cidade.
Enquanto esperava a composição achou que seria engraçado reparar se as pessoas tinham a “cara” da roupa que vestiam ou vice-versa. De fato a brincadeira estava divertida e ainda fazia com que a espera parecesse mais curta.
Viu uma moça bonita vestindo uma roupa bem simples: calça cáqui e uma camiseta também em tons pastéis. Combinavam com a pessoa sim. Porque não? Ela era bem bonitinha, usava óculos de gatinha (o que talvez não fosse condizente comas suas roupas ou estilo de ser) e os cabelos castanhos que lhe batiam no ombro, estavam comportadamente escovados e brilhosos.
Mas o mais curioso da viagem aconteceu quando já estava sentado e o trem já havia andado umas três ou quatro estações.
um senhor já bem velhinho entrou no trem trajando um elegante terno cinza de risca de giz. As listras eram bem suaves e ele achou que talvez não tivesse reparado nelas se o velhinho não estivesse realmente elegante.
- Possivelmente vai resolver alguma coisa importante. Deve ser seu melhor terno. – Pensou nisso distraidamente enquanto checava, pela enésima vez, se os papeis estavam dentro da pasta e se ficaria nervoso na hora do encontro com o cliente.
Tudo checado, tudo em cima, voltou a reparar no velhinho. Com isso, reparou também que algumas pessoas olhavam para ele e se divertiam. Riam veladamente e algumas faziam força para prender o riso. Achou aquilo uma afronta e resolveu averiguar o porque da chacota.
Levantou-se e ofereceu seu lugar para o velhinho elegante. O velhinho agradeceu muito educadamente mas ainda assim, pareceu um pouco incomodado com a minha atitude.
Por estarem um pouco distantes, o velhinho teve que andar uns três passos para chegar até o assento vazio. Nesse meio tempo, pode perceber que havia um mafuá de fita adesiva presa na sola do sapato do velhinho. Tanta fita fez aquilo parecer um laço de fita grotesco e sem a graça brilhante das fitas que embrulham nossos presentes.
Ao ver que esse era o motivo das risadas alheias pensou numa forma de retirar o falso e esdrúxulo laço de fita ou de avisar ao velhinho. Diante da elegância do mesmo achou por bem tirar o ridículo enfeite sem fazer alarde.
Com um movimento de quadril conseguiu passar para o lado do velhinho onde estava o infame bolo de fita. Pisou firmemente sobre um pedaço de fita e viu que a mesma desgrudara do pé do velhinho.
Distraidamente pensou – Sapatos bem engraxados! Não merecem isso! – Ficou em pé de modo que veria o velhinho a todo tempo. Quando percebeu que a estação do senhor tinha chegado, ficou observando até que as portas se fecharam com um apito estridente.
O velhinho saiu do trem, ajeitou a gravada e o colete, empertigou-se e foi andando resolver o quer que fosse.
E ele ali. Ainda se sentindo bem. Olhou ao redor e se sentiu melhor ainda por perceber que ninguém reparou no que fizera e esse, foi sua grande recompensa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Free counter and web stats