8.1.08

Dia Branco

Branca era a cor daquela manhã. O sol era branco. Despiu-se dos brancos lençóis e, sentado na beirada da cama, calçou os brancos chinelos. Arrastando-se até o banheiro de brancos azulejos, contemplava as brancas paredes enquanto a branca gata roçava suas pernas tão, tão brancas. Olhou-se no espelho e deparou-se com um homem branco cuja barba, assim como o cabelo, já ficava branca.
Abriu a torneira e a branca água caía quente sobre o branco corpo do branco homem que colocou um pouco do branco shampoo na mão em concha e espalhou sobre a branca cabeça. Esfregou o branco sabonete sobre o corpo e ficou assistindo a branca espuma escoar pelo branco ralo.
Depois de enxugar-se na branca toalha, foi até o quarto onde a branca camisa pendurada no branco cabide o aguardava. Como sempre, vestiu a branca camisa, calçou as negras meias e vestiu a desbotada calça jeans.
Já metade fora de casa, uma rajada de vento trouxe uma fita toda colorida que caiu no meio da sala. A branca gata se aproximava lentamente, com medo, receio. O que seria aquilo? Vencendo o medo, ela, a branca gata, foi chegando perto da colorida fita e cheirando a fita, a gata se coloriu.
E a colorida gata olhou para o branco homem e miou olhando do branco homem para a branca janela. Não se sabe por que, mas o branco homem entendeu a mensagem e correu na direção da janela. E a abriu.
Naquele momento, os brancos móveis tomaram cor de madeira, a colcha que ficava sobre o sofá se tornou colorida com a cor da Índia, as plantas se tornaram verdes como nunca se havia visto, a gata se tornara colorida em tons de negro, branco e caramelo. Os verdes olhos dela fitaram o ainda branco homem e ele correu até o escritório abrindo as janelas num rompante. Aquela luz multicolorida entrava em casa deflorando a brancura, estuprando o cinza, afastando o ordinário.
O branco homem correu até o quarto para abrir as janelas, mas antes disso arrancou a roupa branca, negra e desbotada. Nu, foi até a janela e abriu ali as portas para todas as cores. Viu seu branco corpo se tornar bronzeado e, com os braços abertos, respirou fundo. Sentiu as cores e a vida invadindo seu corpo e sua alma. A colorida gata deitou-se do seu lado e pediu carinho. Com os olhos bem abertos o colorido homem via e escutava os pássaros logo ali do lado de fora da sua janela.
Quando o telefone tocou, ele não estranhou e caminhou até a sala. O telefone que antes fora negro, brilhava em tons dourados. A voz tão familiar e tranqüila do outro lado disse: Marcito, seu cretino!! Vamos pra Maromba?

6.1.08

A Espera

Fui trabalhar no dia seguinte com a sensação de que tinha feito tudo, tudo certinho. Tinha te tocado do jeito certo, tinha de beijado como você gosta, tinha dito palavras doces. O dia se arrastava e eu esperava que você me ligasse de volta ou respondesse minha mensagem, mas a espera foi em vão.
Não sabia muito bem o que esperar de um outro dia. Não sei se realmente queria que você aparecesse. Não sei se tenho andado muito solitário e vulnerável. Na verdade, esperava que você fosse transparente como fui exigido. Talvez eu esperasse que alguma coisa fosse dita nem que fosse “sai da minha vida”.
Deitado na minha cama, me dividia entre olhar para a televisão e assistir a chuva que caia lá fora. Minha cabeça se perdia em meio a pensamentos diversos de ontem, hoje e amanhã. Abracei um dos mil travesseiros que me rodeavam e um pensamento me atingiu como uma flecha fazendo com que os outros voassem: tenho estado sozinho. Mas não há tristeza em minha solidão. Muito pelo contrário.
Sentado na beirada da cama, meus pés tocam o chão frio. Acendo um cigarro e espero.

Arquivo do blog

Free counter and web stats