13.7.04

Da Saudade e do Tempo

Depois de um longo e tenebroso inverno, consegui, finalmente, assistir ao documentário “Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje”. Outra hora eu falo do filme ou escrevo uma daquelas minhas parcas críticas cinematográficas que ninguém lê.
O que me chamou a atenção foi uma descoberta que fiz: eu não tenho saudade.
Uma vez constatado o fato, abri outra cerveja, acendi mais um cigarro e me pus a pensar na coisa. Abri o dicionário para ver a morfologia e o significado literal da palavra “saudade”. Segue:
“1. Sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável.”
Para mim, bastaram as sete primeiras palavras e, na verdade, uma delas diz quase tudo: “incompletude”.
Muitas vezes, uso expressões como “tenho saudade de jogar bola na pracinha” ou coisa que o valha, mas na verdade não é saudade. Eu não gostaria de ter dez anos de novo. Nem dezoito, nem três. Penso no meu passado com muito carinho, muito afeto e procuro não repetir algumas burradas que cometi lá. O que passou, virou história, aprendizado. Pessoas também passaram e continuam passando pela minha vida e fazendo parte e construindo comigo a minha história. Umas chegam e vão, outras chegam ficam um tempo e também se vão. Mas as mais importantes são as que marcam. As marcas que carregamos são indeléveis e nem a implacabilidade do tempo pode apagar. Da mesma forma, não sinto saudades. Da mesma forma, penso nas pessoas que se foram com muito carinho e respeito. O que deveria ser vivido naquele tempo com aquela pessoa, foi completo, me bastou, me fez completo.
Recentemente encontrei pessoas de um passado nem tão distante assim. Gente de colégio, gente de quem gosto muito mesmo! Claro que a conversa girou em torno das coisas desse passado. Me vinham imagens e boas sensações daquele tempo, mas o tempo ficou lá. As pessoas reapareceram, mas a união, a cumplicidade que se tinha naquele tempo, não existem mais. As pessoas seguem seus caminhos. Existe o carinho por termos dividido uma época tão rica na vida de qualquer um. Época de experimentações, afirmações, medos, dúvidas muito mais intensos do que hoje.
Mudando um pouco, mas não completamente de assunto. Reparei, nessa aventura de reler meus textos antigos, que escrevo muito sobre mares, rios e sobre o tempo. Mar e rio são metáforas para o próprio tempo e confesso que muitas vezes usei dessas metáforas sem saber desse significado.
O tempo não pára, a vida não pára. Sentir saudade é uma forma de se tentar ficar lá naquele tempo e isso interrompe, vai contra o sentido da própria vida. Como dizia Heráclito a vida é um fluxo de constante movimento (como o rio, como o mar). Eu tenho problemas com o tempo. Nunca quis que o tempo parasse. Sei que tenho problemas em administrar meu tempo, mas vou aprendendo enquanto sigo essa minha vereda.

“A única coisa que nos cabe decidir é o que fazer com o tempo que nos foi dado”
Gandalf

“O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.”
(Se alguém souber o autor, este velho e alquebrado escriba agradecerá a contribuição)

“Meu tempo as vezes se perde
Em coisas que não desejo...”
Retiro – Paulinho da Viola

"O vento empurra o barco, mas quem escolhe o rumo é o timoneiro"
Marcio Brito

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