3.6.04

Futuro do pretérito mal feito

Sempre se pegava absorto, pensando no passado e na falsa segurança que este trazia. Olhava fotos antigas e seus olhos se enchiam de lágrimas como se vivesse o passado agora. Sentia-se seguro no passado quando era querido, amado e divertido. Em momentos como esse a vida lhe parecia calma e feliz. Vivia seu presente no passado, seu passado no presente. Hoje era apenas mais um. Visto como um louco, inconstante e piegas.
Certo dia olhou para o futuro e não viu nada mais que seu próprio reflexo envelhecido, triste e solitário. Não sozinho, mas solitário. Não queria viver o futuro. No futuro, continuava cometendo os mesmo erros, mas tinha mais dificuldade em se reerguer quando lhe puxavam o tapete ou quando ele tropeçava em sua própria pressa em se revelar, se resolver, se conhecer.
Em outro dia, curioso para saber se algo mudara em seu futuro, viu uma pessoa próxima. Era uma mulher. Bonita, de sorriso largo e sincero. Foi apenas um flash que vira. Sabia que mesmo que aquilo acontecesse, seria fugaz. Não criava mais ilusões a respeito de seu futuro. Sabia que daria um jeito de estragá-lo. Como fez ao longo de toda a sua vida.
Andava nu pelas ruas da cinzenta cidade. Era assim que se sentia com sua “arte”. Como se estivesse exposto aos olhares curiosos dos transeuntes que comentavam, censuravam ou aplaudiam. Sim. Havia quem aplaudisse mesmo que hipocritamente. Nesse dia, a mulher refletida ao seu lado no futuro, passou por ele. Apresentou-se, conversaram, mas como sempre, falara demais. Ela, por algum milagre, não percebera ou talvez fingisse não perceber.
Ele, mais uma vez, tinha se auto-sabotado. Perguntava-se se teria visto o futuro ou só mais uma repetição do passado. Um eco de um grito abafado em seu frágil peito de vidro. Coitado... De tão frágil, fino e transparente, começava a vazar. Uma pequena rachadura que ele tampou com o dedo. Mais uma rachadura que tampou com outro dedo até que não havia mais dedos para conter o vazamento. Vazio, foi pra casa catando os cacos de seu peito pelo caminho. Já na casa que não era sua, deitou-se na cama de outra pessoa e chorava lágrimas que já haviam sido derramadas.

2.6.04

Classificados

Vendo coração.
Vinte e muitos (quase trinta) anos de uso. Ventrículos em perfeito estado de funcionamento. Tem a péssima mania de se apaixonar pelas pessoas erradas e adquiriu diversas cicatrizes devido a essa pequena falha. Encontra-se um pouco mofado, mas nada que manhãs de sol, boa música, livros ou filmes não possam dar jeito. Desanda a bater acelerado quando perto do objeto de afeição. Fiel, companheiro e cúmplice. Por fora não parece grande, mas cabem muitas pessoas confortavelmente. Dou preferência àqueles que tiverem a auto-estima em um nível que não o torne babaca nem o endureça. Tratar aqui mesmo!

31.5.04

O Retorno

Andava eu pelas ruas do Rio de Janeiro. O dia estava bonito com o sol amenizando o frio do inverno (?) carioca. Sentei-me num banco da orla de Ipanema e admirava o encontro de céu e mar quando um vento forte trouxe nuvens. O céu tornou-se plúmbeo e raios cruzavam as nuvens. Tomado do mais legítimo pânico, me escondi debaixo do banco quando uma voz tonitroante dirigiu-se a mim:
- Sai daí de baixo, frouxo!
- Quem é?
- Sou eu, o Mago! O Velho Mago!
- Mago? Por onde andavas?
- Ah! por aí... Entrei em contato contigo pois quero que sejas meu arauto! Avise à plebe ignara que EU voltei para sanar o males da humanidade!
Desde esse dia, sou o arauto desse cara aqui

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