12.1.07

Minha vida, minha morte

Curiosamente, não se sabe o que vai acontecer. Ou melhor, sabe-se, mas é melhor não pensar nisso.
Era meu último dia na cela. De uma forma estranha e reconfortante, as pessoas, ou melhor, os guardas me tratavam como se eu fosse gente. Até então, eu era somente um prisioneiro.Minha morte, por enforcamento, estava marcada para dez da noite.
Tudo me parecia uma grande metáfora. Eu pensava em tudo que tinha feito e não conseguia me sentir livre. Sabia com uma precisão cirúrgica tudo o que tinha feito. Sabia que não tinha sido o que minha mãe esperava de mim. Sabia que não consegui sair do casulo como havia prometido à minha esposa. Logo essas duas que tanto confiavam e acreditavam em mim.
No meu último jantar, pedi que me servissem o purê de batatas de minha esposa e um contra-filé “deep fried” de minha mãe. Claro que não era igual, mas os cozinheiros da prisão fizeram o melhor deles.
Pedi um cigarro e fumei como se fuma o último cigarro da sua vida. Também pedi uma dose de vodka. Minha cabeça ficou leve e o cigarro me queimou a língua como se fosse cascalho quente. Pensei nas duas mulheres da minha vida pela penúltima vez. Respirei fundo e fui conduzido pelos estreitos e fétidos corredores da prisão. Eu estava curiosamente calmo e cantava baixinho (Let’s make love, for old trimes sake. Let’s set right, an old mistake. Let’s invite our hearts to break. Is right tonight, just for old times sake.)
Ao chegarmos à forca, tentei fugir, lutei, acertei um soco em um dos guardas, mas fui contido. O padre falava qualquer coisa que não consegui compreender, pois chorava demais. Acho que chorava numa desesperada tentativa de fazer com que todos sentissem pena de mim e me deixassem ir. Mas isso seria ridículo. Cada um carrega sua cruz e a minha era ser morto por enforcamento. Compreendi tudo o que me foi dito a respeito de minha sentença e parei com o choro.
Minhas últimas palavras foram: Queria ser Superman e fazer o tempo voltar. Já que não posso, alguém explica pra Tita, por favor. Ela não vai entender porque eu sumi por tanto tempo. Minha mãe... Você fez o melhor, criou o melhor. Não se culpe, pois a culpa é toda minha. Bebê... Desculpe. Queria ser melhor. Queria ter tentado com mais força, mas eu não consegui. Queria ter te dado tudo que você merece. Queria ter te feito feliz, mas se eu te fiz feliz por cinco minutos da sua vida, então esses foram os cinco minutos mais felizes da minha vida.
Minha última lágrima escorreu quando a corda foi posta ao redor do meu pescoço. Fechei os olhos e a última coisa que senti foi o chão faltar de baixo de mim. A última coisa que escutei foi o estalar do meu pescoço. Morri sem ter conseguido ser o que as duas pessoas que eu amo tivessem a chance de vislumbrar alguma esperança em mim. Na verdade, morri muito depois de ter matado todas as esperanças das minhas duas mulheres.

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