12.4.11

Aqui, ali, ontem e agora

Em verdade, sempre tive muita dificuldade em começar a escrever. As coisas acabam se amenizando depois de um árduo começo. Não que cheguem a ficar boas, mas... A gente faz o que pode.
Sempre fui avesso a essas coisas de escrever diários, mas tenho passado por coisas muito intensas e chega uma hora em que, pra mim, não adianta conversar com as pessoas, preciso escrever visceral, ardida e apaixonadamente como tudo que sempre fiz e faço.
Cheguei, como todos chegam, ao ponto em que as perguntas – todas – ficam aqui rodopiando. Sempre gostei mais das perguntas do que das respostas e isso foi uma coisa que me acertou como uma bela porrada na cara. Quem em sã consciência gosta mais dos mistérios do que do descobrimento? Loucos! Juntemo-nos! De modo que possamos rir das expressões incrédulas dos caretas! Que possamos correr pelas ruas, gritando nossos amores tristes, nossas alegrias radiantes, nossas paixões infinitas, nossos ilusões super-esporte!
Volto às perguntas, pois tenho me questionado muito, recentemente. Venho tentando me entender, entender processos, sentimentos, reações. Na verdade, venho questionando começos e fins, términos e voltas, esperanças e desesperos. Onde fica nosso destino? Estamos fadados a uma busca inútil, porém, talvez fértil de nós mesmos? Talvez a fertilidade da busca nos faça amadurecer de modo que nos busquemos mais e mais e mais e nos achemos tão interessantes que não tenhamos mais espaço para outros. Serão os outros realmente companheiros nessa viagem em busca de mim? Se sim, então não passam de meros coadjuvantes. Se sou tão interessante a ponto de não precisar de ninguém, então porque busco outros e outras? Se sou incompleto, quem vai me completar? Será que completo ou completei alguém? Talvez sejamos somente esse imenso nada recheado de questões dentro desse jarro de carne e ossos que nos permeia pelas questões tão básicas e que, mesmo assim, continuam sem resposta.
Existe um fato: ninguém muda. As pessoas são quem são, as coisas são o que são e ao mesmo tempo não somos ninguém e nada é. Então que diabos é essa dicotomia toda? De onde criamos isso?
Saio da varanda, vou até o banco no jardim, sento e fumo. Vejo a fumaça desaparecer no vento e aproveito pra olhar as estrelas. Não consigo evitar certa vergonha de me questionar tanto enquanto tantas coisas maiores têm problemas maiores. As estrelas têm que se preocupar com seu próprio campo gravitacional de modo que não atraiam outras estrelas porque se isso acontecesse, seria definitivamente o fim. E eu aqui me preocupando com o curso dos meus pensamentos... Triste epitáfio de um ser tão ínfimo. Na lápide desse ser, lia-se: “Morreu pensando que se pudesse comparar seus problemas com os das estrelas. Coitado - riram-se elas.” Esqueço minhas preocupações por um momento e rio da minha própria besteira.
E então, as coisas continuam as mesmas na terceira pedra a partir do sol. As dúvidas continuam, as manias de grandeza também. Mas as respostas estão logo ali, “over the rainbow” e o pote de ouro no fim dele fica ali em Santa Teresa. É onde fui e sou feliz. É onde me encontro comigo, onde sinto todas as dores, delícias e dúvidas de ser quem sou. Onde me recolho e me espalho, onde posso mudar ou permanecer, onde posso ser dicotômico. Mesmo que distante. Mesmo que uma ilha.
Cada um com seus defeitos, cada um com seus problemas (grandes, enormes ou pequenos)¸cada um com suas idiossincrasias, cada um com seus limites, cada um com seu cada qual, cada louco com seu livro. Somos tão diferentes e tão iguais que as mesmas coisas que me atraem, me repelem e nesse abismo entre mim e eu mesmo, me completo. Mesmo que sozinho.
Ao fim e ao cabo, somos todos companheiros, passageiros e tripulantes do mesmo barco. Uns desembarcam antes, outros seguem rio abaixo comigo. Mesmo que eu queria continuar junto, mesmo que os dois queiram, em algum momento o fim há de chegar. E não se engane, companheiro. Ele chega. Às vezes silencioso como uma brisa, outras esporrento como uma coisa bem esporrenta que não consigo pensar agora.
Amar, odiar, não amar, amar mais ou menos, esconder, aparecer. Isto posto, nos resta o que nos é imperativo: precisamos de atenção, de amor, carinho, afeição. Podemos ser corajosos, querer que tudo dê certo, tenta mudar PRA que tudo dê certo. Ou podemos não fazer absolutamente nada e ainda assim nos sentirmos heróis. Uma coisa como “ A balada do anti-herói”. Talvez seja melhor ser o anti-herói. Afinal, quem não faz nada, não erra e quem não erra, não leva bronca do chefe.
Nos demais, o tempo se encarrega de nos mudar. Quanto mais velho ficamos, quanto mais próximos do fim, mais nos damos conta de que o que parecia tão importante, não é mais e que passamos tanto tempo pelejando contra mudanças que poderíamos ter feito tão entes e de forma tão menos dolorosa.

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