12.12.10

Acordormindo

O lento acordar se dissipa quando a casa se enche de música e o cheiro do café. Ainda dormindo você se mexe, muda de posição tentando permanecer no perene sono que te abraça, acolhe, serena. Saio do quarto e boto minha cara pra fora da janela onde os pássaros fazem a algazarra de sempre subindo, descendo, voando, brigando, mas ainda assim enfeitando a moldura do quadro que se pinta do lado de fora.
Saio pela rua flutuando no caminho que me leva até seus sonhos, corro até chegar a seus braços, me afogo no oceano dos seus carinhos, sonho seus sonhos, fico bêbado da sua risada. Mergulho, fujo, volto à tona, retorno, te vejo e mesmo longe, volto pra te encontrar.
Preguiçosa, você acorda ao som da música. Seus braços me apertam enquanto lavo a louça da nossa farra de ontem. Seu beijo no meu pescoço me arrepia, me viro, te abraço de volta. Ficamos ali abraçados na cozinha, dançamos sem sair do lugar ao som que nos preenche, nossos olhos se encontram, se cumprimentam e tristemente se despedem mesmo sabendo que o amanhã é nosso, que podemos tudo, que nos queremos, nos amamos.
Te acompanhar até seu carro sempre foi doloroso. De uma certa forma, é como se eu nunca mais fosse te ver. Seu aceno pela janela me corta o coração. Viro as costas e volto para onde a música me preenche de novo. Nosso lugar. Deito e sonho acordado com o dia em que não teremos mais que nos despedir, onde não há separação seja de corpos ou de almas, onde seremos quem somos, quem queremos ser, quem devemos ser.

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